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Crônicas

Viagens e Criatividade: a Importância de se impressionar

Suada, debaixo do sol da Bahia, a mochila pesando nas costas e sentindo, em terra firme, o leve balanceio das ondas que me acompanharam desde que desci da lancha… Naquele momento, eu não poderia estar mais feliz.

O encantamento com as ruas de areia, as casas coloridas, a sensação de não saber direito para onde ir: há quanto tempo eu não me sentia assim?

Chegar em Boipeba me devolveu um sentimento que há muito eu havia perdido: o de viajar para descobrir. Por algum motivo, a pequena ilha me despertou sensações parecidas com aquelas que tinha ao me perder em vilas na Ásia, correr atrás de trens na Europa ou perambular pelas metrópoles latino-americanas.

Eu não sei dizer como, nem quando, mas esse sentimento aos poucos se dissolveu. Antes mesmo do tempo em que fomos forçados a estacionar, eu já estava há meses viajando de forma quase protocolar: mesmo destinos novos já não me empolgavam. Você conhece aquele ditado: trabalhe com o que ama e você nunca mais vai amar nada na vida.

Ao transformar as viagens em minha rotina, eu acabei caindo na armadilha de me acostumar com elas. E, assim, matei o que elas me traziam de mais valioso: absorver estímulos constantes.

E, você vai concordar comigo, isso é preocupante. A criatividade sempre foi um elemento importante na minha vida. E, acho que desde que eu comecei a viajar, é do movimento que eu tiro grande parte do alimento para a minha criatividade.

Se abro minha pasta de referências no Evernote, encontro lá um acervo enorme de fotos que tirei de quadros em museus, reportagens sobre culturas distantes que quero visitar, frases que ouvi dentro de ônibus empoeirados e insights quase ininteligíveis que surgiram durante uma caminhada em um bairro desconhecido. São fragmentos de mundo que eu coleciono aqui dentro e depois viram textos, projetos, ideias, como eu já te contei aqui.

“Bar de Ostras em Boipeba, na Bahia”

“Chegada em Boipeba,”

O contato com novos sons, idiomas, imagens e sensações motiva novas sinapses em nossos cérebros. Novas sinapses geram novas conexões, e isso é o que chamamos de criatividade.

(Pelo menos é o que diz essa reportagem do The Atlantic e um monte de neurocientistas pica por aí.)

Mas não faltam exemplos: Hemingway tirou grande parte da inspiração para seu trabalho do tempo em que passou vivendo na Espanha e na França. Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo, mudou-se do Reino Unido para os Estados Unidos depois dos 40 para começar a se aventurar no mundo da produção de roteiros.

E Mark Twain, que navegou pela costa mediterrânea em 1869, escreveu em seu diário de viagens Innocents Abroad aquela frase motivacional que a gente adora pinnar no Pinterest: “Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas”.

No entanto, entrar em um avião não basta. É preciso saber notar, cultivar a curiosidade pelo novo e absorvê-lo com todos os sentidos. À partir do momento em que passamos a tratar como trivial o diferente, o estímulo perde seu poder e transformamos em zona de conforto o que um dia foi desafio.

O melhor dessa chegada em Boipeba foi o gosto de recomeço. Agora, mais consciente de que a gente é capaz de se acostumar com tudo, mesmo com as coisas mais inacreditáveis, posso treinar meu olhar para nunca mias deixar de me impressionar.

Eu te ajudo a cair na estrada também!

Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade digital. Atuo como Publisher Independente desde 2010 e sou especialista em Escrita Criativa, Estratégia de Conteúdo Digital e Jornalismo de Viagem. Sou co-criadora do renomado blog de viagens 360meridianos, LinkedIn Top Voice 2024, e autora da newsletter Migraciones. Nas redes sociais, atendo sempre pela arroba @natybecattini.

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