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Viagem

Como funcionam os clubes de maconha de Barcelona

Sofás confortáveis espalhados em um ambiente à meia-luz, um jazz suave tocando ao fundo. Em uma mesa, um grupo conversa sobre um assunto qualquer. Em outra, um jovem profissional responde emails do seu laptop. Esse poderia ser o cenário de mais um café hipster com wifi e menu natureba, mas estamos falando de um clube para consumo legal de maconha em Barcelona.

Nos últimos anos, estabelecimentos do tipo pipocaram em toda a cidade. Segundo uma reportagem do El País, em 2014 Barcelona já contava com 160 associações. Se ampliamos a área para a região metropolitana da cidade, o número sobe para 300, que juntas somavam 165.000 sócios, mais ou menos 2% de toda a população da Catalunha.

Para se ter uma ideia, Amsterdam, com toda a sua fama de ser a cidade do medo e delírio na Europa, conta com 198 coffee shops. A diferença é que, aqui, você só entra em um clube e retira maconha se for um sócio.

Com diferentes níveis de sofisticação, os clubes variam de lugares onde os associados podem relaxar ao som de boas músicas, participar de atividades culturais ou mesmo trabalhar a pontos de distribuição simples onde você só pega o produto e vai embora. Há ainda aqueles que nem contam com um espaço físico e funcionam apenas com serviço de delivery. Dá para pedir a maconha pela internet e esperar na tranquilidade do seu lar.

Na lista de sócios, pessoas entre 18 e 66 anos e das mais variadas situações socio-econômicas. Entre eles, há inclusive aqueles que usam a droga para fins terapêuticos. Os clubes fazem questão de garantir a qualidade do serviço cultivando ervas específicas para esse tipo de uso, assim como para aqueles que querem expandir a criatividade, relaxar tranquilamente ou ter uma onda mais forte. Com a produção controlada, o menu de ofertas varia de acordo com o gosto do freguês.

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A legislação sobre a maconha na Espanha e a legalidade dos clubes

A criação dos clubes de maconha em Barcelona surgiu por causa de um vácuo na lei. Na Espanha, cada comunidade autônoma tem o direito de decidir sobre a legislação a respeito da erva e a Catalunha é a mais liberal. Aqui, fumar maconha em espaços privados, como na sua casa, não é ilegal. Também é permitido cultivar a erva para consumo próprio, mas não é permitido vendê-la, fumar em espaços públicos ou caminhar com maconha pelas ruas.

Em 2011, uma lei antitabaco instituiu que só seria permitido fumar em lugares fechados de acesso público, como bares ou restaurantes, se esse lugares fossem clubes específicos para fumadores. Embora a lei tenha sido criada pensando no tabaco, as associações se aproveitaram dessa falha para argumentar que o mesmo valeria para a maconha e o haxixe. Foi então que os primeiros clubes surgiram.

Plantação particular de maconha em Barcelona. Foto: Shutterstock.

Quem se inscreve não é considerado um cliente. É um associado. Dessa forma, eles pagam uma taxa trimestral ou anual que varia entre 5 e 15 euros para cobrir os gastos da produção da sua própria maconha e podem retirar cotas mensais quando quiserem.

Entenderam o que eles fizeram? Aproveitaram a permissão do cultivo para consumo próprio e a permissão para fumar em lugares privados e criaram um modelo que funciona como uma cooperativa. Os sócios apenas retiram o que já é deles, não estão comprando nada. Para caminhar dentro das regras, os clubes não podem ter fins lucrativos: todo o dinheiro gerado deve ser reinvestido na própria associação. Também não podem fazer publicidade ou tentar atrair novos membros de forma ativa.

Quem pode se associar aos clubes de maconha?

É preciso ter mais de 18 anos (alguns clubes exigem mais de 21), ser residente na cidade e ter um amigo associado ao clube previamente. Isso quer dizer que você só entra com convite e que, se você vem à cidade esperando encontrar uma nova Amsterdam, pode tirar o cavalinho da chuva. Havia um clube no El Raval que pegava turistas na rua e os associava ali mesmo, sem pedir documento espanhol ou certificado de empadronamento (prova de residência na cidade), mas ele acabou fechado pela justiça em 2014.

Depois de conseguir um amigo para validar sua entrada, é preciso preencher um extenso cadastro, que será avaliado pela administração do clube. Algumas vezes, é preciso provar que você já era um consumidor habitual da erva e que não está sendo induzido por *más companhias* (aposto que sua mãe já te pediu pra parar de andar com esse amigo, hein?) ou pelo próprio clube.

Outras vezes, é preciso dizer qual a quantidade de maconha você costuma consumir por mês e essa será sua cota mensal. Atenção, maria-fumaças, há um limite máximo de 150 gramas por mês, o que é coisa pra caralho, segundo investiguei. Isso porque, caso os clubes passassem mais de 5 gramas por dia aos usuários, poderiam ser enquadrados como distribuidores, segundo a jurisprudência local.

Disclaimer: Esse post foi originalmente publicado no 360meridianos, mas foi retirado do ar em uma auditoria de conteúdo. Como eu não que ele sumisse da internet, resolvi republicá-lo aqui!

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade digital. Atuo como Publisher Independente desde 2010 e sou especialista em Escrita Criativa, Estratégia de Conteúdo Digital e Jornalismo de Viagem. Sou co-criadora do renomado blog de viagens 360meridianos, LinkedIn Top Voice 2024, e autora da newsletter Migraciones. Nas redes sociais, atendo sempre pela arroba @natybecattini.

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