Foram muitas as noites mal dormidas em ônibus, aviões, aeroportos e rodoviárias. Muitos banhos gelados, inúmeras estradas intermináveis em que o avanço dos quilômetros é sentido no corpo. Aquela sensação de estar meio sentada, meio deitada na cadeira reclinável (às vezes nem isso), virando de um lado pro outro cada vez que machuca. Viajar é, antes de tudo, um rolê desconfortável pra burro.
A começar pelo trajeto. Tá, tem sim uma poesia na estrada, mas tem também aquela ansiedade característica de chegar, não porque o destino seja tudo que importa, mas para conseguir pelo amor de deus colocar o corpo na vertical — ou na horizontal — de verdade, de uma vez por todas.
Viajar nem sempre é belo; às vezes dói no sentido físico mesmo da palavra. Muitas vezes é irritante. Cansativo. Perigoso. Mas então, porque seguir?
Anthony Bourdain dizia: “Abra a sua mente, se levante do sofá, mova-se.”
Adotei esse conselho instintivamente antes mesmo de ouvi-lo, assim que qualquer quantidade mínima de dinheiro começou a pingar em uma conta bancária vinculada ao meu CPF. Ao contrário de muitos de seus fãs, comecei a viajar não por influência dele, mas sem nunca ter ouvido seu nome, motivada por uma profunda curiosidade sobre o mundo e sobre o que era diferente daquilo que eu conhecia. Gosto de pensar que tínhamos um pouco em comum.
Um dia, quando a saudade bateu, procurei uma forma de reassistir seus programas, mas eles estavam desaparecidos dos streamings e a pirataria na internet andava em baixa (eu não tenho mais paciência para esperar 10 dias por um torrent que vai retornar um vírus e um filme pornô no final).
Me contentei lendo seus livros, tive uma fase obcecada com sua história, pensamentos, o jeito que enxergava a vida. Por fim, encontrei uma mina de ouro no Streamio e, recentemente, um canal do Youtube dedicado a republicar Parts Unknown (como esse conteúdo não cai por direitos autorais? Será o dono alguém da família do Bourdain? Alguém que comprou os direitos de exibição? Questionamentos!).
Me alegrei ao ver, em sua filosofia viajeira, inúmeros pontos de conexão com a minha. E outras coisas que absorvi.
Bourdain acreditava em viajar com espontaneidade, sem um roteiro rígido, para dar espaço para que os “felizes acidentes” acontecessem pelo caminho. O imprevisto, dizia, é um guia generoso.
Comida é uma ponte entre pessoas e, por consequência, entre culturas. E essa crença foi fio condutor de toda uma vida: as relações que criamos ao dividir um copo ou uma refeição.
Longe de ser chef ou crítica culinária, foram as viagens que me forçaram a deixar de ser a menina insuportável criada-com-danoninho-e-pouca-disposição-para-sair-da-zona-de-conforto-gastronômica para alguém que não recusa um novo prato porque entendi muito cedo que, depois da língua, a comida é a manifestação cultural mais marcante de um povo. Refeições sozinhas são capazes de contar histórias, explicar contextos e demonstrar afetos.
Tento cultivar — e reconheço que muitas vezes ainda falho miseravelmente nisso aqui — essa curiosidade humilde tão em falta nas viagens instagramáveis dos dias de hoje. Bourdain carregava um interesse genuíno, quase infantil, que o fazia prestar atenção aos detalhes e às pessoas com respeito, reconhecendo quão pouco sabia sobre o mundo.
Vivemos uma era de ruídos, e pouco tempo resta para calar a merda da boca (como ele diria) e absorver.
Tem mais coisas: a coragem de experimentar um caminho diferente, a empatia de enxergar através dos olhos do outro, o impulso de dizer “sim” mais vezes do que “não”.
“A jornada te muda; ela deveria te mudar. Ela deixa marcas na sua memória, na sua consciência, no seu coração e no seu corpo. Você leva algo com você. Com sorte, você deixa algo para trás”. – Anthony Bourdain
Porque também pode ser uma ferramenta de transformação e crescimento, viajar às vezes aperta onde dói. Mas o bom é que ela cura também.
O que você aprendeu com Bourdain?
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