Newsletter: Por que todo escritor deveria ter uma?
Quando eu ainda cursava a faculdade de Comunicação Social na UFMG, um amigo me perguntou o que eu queria fazer da vida. Depois de pensar um pouco, respondi que queria ser correspondente internacional. Naquela época, eu sequer sabia da possibilidade de fazer Jornalismo de Viagem.
Eu tinha um sonho antigo de viajar o mundo e fazer reportagem sobre lugares e culturas distantes, mas não sabia que existia uma profissão para quem queria fazer o mesmo. Muitos anos depois, enquanto eu cruzava a América Latina escrevendo sobre a luta das comunidades indígenas para manter sua cultura viva, percebi com alegria que eu tinha realizado meu sonho.
Eu finalmente podia dizer que era uma jornalista de viagens
Nesse post, vou contar um pouco dessa profissão e dar o caminho das pedras para quem quer trabalhar com isso também.
Leia também: Livros de jornalismo de viagem para se aprofundar no tema
O jornalismo de viagem é um gênero especializado dentro do campo jornalístico que se concentra em contar histórias e compartilhar informações sobre viagens, destinos, culturas e experiências. Ele engloba a produção de artigos, reportagens, fotografias e vídeos relacionados a viagens e turismo, com o objetivo de informar, entreter e inspirar leitores e espectadores.
Jornalistas de viagem são profissionais treinados que adotam uma abordagem ética e responsável para reportar suas histórias, garantindo que as informações sejam precisas, relevantes e justas.
O jornalismo de viagem abrange uma ampla gama de tópicos e estilos, incluindo:
Ao trabalhar com jornalismo de viagem, os profissionais têm a oportunidade de explorar o mundo, conhecer pessoas e culturas diferentes, e compartilhar suas descobertas e aprendizados com o público.
Além disso, o jornalismo de viagem pode desempenhar um papel importante na promoção do turismo sustentável, da diversidade cultural e da compreensão global. Não é incrível?
Um dos conceitos que aprendi no máster em Jornalismo de Viagens foi a diferença entre jornalismo turístico, que se dedica a dar visibilidade a destinos e facilitar o planejamento de uma viagem, e o jornalismo de viagens, que fala sobre culturas, problemas sociais e políticos de países distantes não apenas para despertar o desejo de viajar, mas também para informar os leitores sobre lugares distantes e torná-los mais próximos.
Nesse sentido, o Jornalismo de Viagem estaria mais próximo da editoria de jornalismo internacional, por exemplo, mas com uma abordagem mais cultural, voltada para despertar o interesse das pessoas pelos lugares e culturas.
Seu foco principal narrar histórias e compartilhar experiências de viagem. Ele aborda uma ampla variedade de tópicos, como cultura, história, pessoas, gastronomia e aventuras. Jornalistas de viagem frequentemente mergulham profundamente nas tradições e costumes locais, fornecendo insights sobre os aspectos mais autênticos e significativos dos destinos visitados.
O jornalismo turístico, por outro lado, é mais focado em aspectos práticos e comerciais das viagens. Ele se concentra em fornecer informações sobre destinos, atrações, serviços e infraestrutura turística. O objetivo principal do jornalismo turístico é promover e facilitar o turismo, ajudando os leitores a planejar e organizar suas viagens.
Nessa vertente do jornalismo, os profissionais costumam escrever resenhas, recomendações e dicas sobre hotéis, restaurantes, passeios e atrações turísticas. A abordagem é mais objetiva e funcional, com foco no valor e na praticidade para os turistas.
Cada uma dessas editorias tem um público distinto, importância e função de existir. Tanto no 360meridianos quanto nos outros canais que escrevo, acabo fazendo um pouco dos dois.
Em algum momento da história da internet, os blogs de viagem eram baseados em opiniões pessoais e experiências individuais com viés subjetivo. Já o jornalismo de viagem se diferenciava ao buscar fornecer informações precisas, bem pesquisadas e imparciais.
Atualmente, com a profissionalização dos blogs essa distinção é cada vez mais tênue, com blogs adotando técnicas de apuração e redação e com os jornalistas colocando mais sua visão e pautas para construir uma comunidade engajada em torno do seu conteúdo.
Em 2011, poucos meses depois de me formar em Comunicação Social, na UFMG, embarquei com dois amigos para uma viagem inusitada. Através da AIESEC, organização estudantil que promove intercâmbio profissional entre jovens de todo mundo, fomos trabalhar como redatores em uma startup na Índia.
Na época, o dólar baixo e o valor elevado dos voos para Nova Délhi tornaram mais interessante a realização de um sonho ainda maior: fazer um mochilão de um ano pelo mundo, parando em 14 países e 4 continentes.
Assim nasceu o 360meridianos. E, embora eu não soubesse disso na época, minha primeira experiência como jornalista de viagem.
De volta ao Brasil, o blog foi aos poucos se tornando um projeto profissional e financeiramente rentável, e minha expertise no nicho acabou gerando oportunidade de trabalhar em grandes empresas, tanto escrevendo sobre viagem como participando de ações de promoção de destinos. Entre elas, destaco a como a Editora Abril, Hosteling International, Papo de Homem, Visit Britain, Globo, Google, Gol e outras.
Em 2016, resolvi me especializar ainda mais ao cursar o Máster em Jornalismo de Viagem, na Universidade Autônoma de Barcelona. Os amigos que fiz nesse máster me renderam a participação no Projeto Wakaya, que desenvolveu web docs e reportagens sobre a preservação das línguas originárias da América Latina.
Hoje, eu sigo trabalhando no 360meridianos e em meus próprios projetos de conteúdo, como a newsletter Migraciones e meu canal no Youtube.
Um jornalista de viagem pode atuar em diversas áreas e plataformas dentro da indústria da comunicação e do turismo. Aqui estão algumas das principais oportunidades de trabalho para jornalistas de viagem:
Essas são apenas algumas das áreas em que um jornalista de viagem pode atuar. A carreira é diversificada e oferece várias oportunidades para explorar o mundo, contar histórias e compartilhar experiências de viagem com um público amplo.
O mercado de trabalho para jornalistas de viagem pode ser competitivo e desafiador, mas também oferece oportunidades interessantes para aqueles que são apaixonados por viagens e comunicação. A demanda por conteúdo de viagem de qualidade continua a crescer, especialmente com o aumento do turismo e o desenvolvimento de novas plataformas de mídia.
No entanto, é importante reconhecer que esse mercado também está em constante evolução, e os profissionais precisam se adaptar às mudanças na indústria, desenvolver habilidades diversificadas e buscar novas oportunidades. Aqui estão algumas dicas para navegar no mercado de trabalho como jornalista de viagem:
Os salários podem variar de acordo com o tipo de atuação do jornalista. Um jornalista contratado por um jornal e revista tradicional ganham entre R$ 3.500 a R$ 8.000 por mês, de acordo com o Glassdoor.
Ficou interessado? Uma boa forma de começar é estudando o tema para ter ideia se isso é realmente para você!
Esses são alguns dos cursos que você pode fazer para entender melhor e desenvolver as habilidades necessárias para atuar na profissão:
As press trips nada mais são que viagens a convite. Em geral, elas organizadas por órgãos de turismo, companhias aéreas, hotéis ou outros parceiros do setor de viagens para promover um destino, serviço ou evento.
Jornalistas de viagem, blogueiros e influenciadores digitais são convidados para participar dessas viagens com o objetivo de criar e compartilhar conteúdo sobre as experiências oferecidas.
As press trips podem oferecer oportunidades valiosas para jornalistas de viagem, mas também levantam questões éticas e práticas. Aqui estão alguns pontos a considerar ao participar de uma press trip:
Press trips podem ser uma oportunidade valiosa para jornalistas de viagem conhecerem novos destinos e produzirem reportagens e outros tipos de conteúdo, desde que sejam abordadas com responsabilidade, ética e profissionalismo.
Veja agora alguns projetos e iniciativas de jornalismo de viagem para você se inspirar!
globosatplay.globo.com/multishow/nao-conta-la-em-casa
Esse já é um grande conhecido do público brasileiro. Reality show exibido pela Multishow, o programa acompanha as andanças de três aventureiros que viajam a lugares com graves problemas políticos e sociais, os típicos destinos que você não teria coragem de contar para a sua mãe que vai visitar. Países em guerra ou crises graves, lugares arrasados por desastres naturais, ditaduras fechadas com poucos direitos civis para habitantes e turistas. Todos esses são destinos perfeitos para o Não Conta Lá em Casa. Além do programa, há também um livro sobre as viagens da primeira temporada.
globosatplay.globo.com/globonews/que-mundo-e-esse
Outro programa de TV dos meninos do Não Conta Lá em Casa, o Que mundo é esse? busca entender e explicar circunstâncias, contextos, origens e desdobramentos de fatos, situações e personagens do nosso tempo. Cada temporada aborda um país diferente e busca desvendar os processos internos que levam a determinada situação. Entre os países já visitados, o Curdistão, um país ocupado pelo Estado Islâmico, e os Estados Unidos às vésperas da eleição de Trump.
Ao percorrer a América Latina, do México à Argentina, os jornalistas Martín Cúneo e Emma Gascó se propuseram a documentar a história dos movimentos sociais que transformaram a região desde os anos 1990. Além do site com reportagens sobre os países visitados, há também um livro sobre o mesmo tema. Em Espanhol.
O Afreaka é um projeto de mídia alternativa, educação e produção cultural que traz um lado pouco conhecido do continente africano no Brasil, fugindo dos estereótipos como fome, pobreza e passividade, e cobrindo as expressões coletivas e individuais das culturas locais – tendências, música, literatura, arte, culinária, arquitetura etc.
Fundado pela jornalista Flora Pereira e pelo designer Natan Aquino, o projeto teve início em 2012. Hoje o Afreaka tem mais de um milhão de acessos e 50 mil seguidores nas redes sociais. A equipe cresceu e o projeto vem experimentando, além da área da comunicação, interlocuções com os campos da educação e da produção cultural, trazendo a África ainda mais pra perto do Brasil.
Com a mudança na internet e a pressão dos mecanismos de busca, nós migramos o melhor conteúdo de viagens do 360meridianos para o Substack.
Na newsletter Grandes Viajantes, os assinantes recebem mensalmente uma reportagens, um crônica e dicas de livros e atividades de escrita voltadas para viagens.
Migraciones é meu projeto pessoal de crônicas e reportagens de viagem. Com textos mais intimistas, mas sem perder o viés político e social, eu compartilho minhas experiências e observações pelo mundo, além de falar também de vida nômade e escrita criativa.
Eu te ajudo a cair na estrada também!Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens. |
O zoológico de Buenos Aires foi fechado e transformado em um parque ecológico. A decisão,…
A ideia de que As Veias Abertas da América Latina deveria ser leitura obrigatória no…
Não sei explicar porque eu viajo. A gente vê, curte e compartilha esse monte de…
As viagens são muitas vezes vendidas como cura para todos os problemas da humanidade. Mas…
Sofás confortáveis espalhados em um ambiente à meia-luz, um jazz suave tocando ao fundo. Em…
No século 19, as tropas napoleônicas varriam a Europa. De território em território, tomaram a…
This website uses cookies.