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Viagem

Pelo fim dos zoológicos

O zoológico de Buenos Aires foi fechado e transformado em um parque ecológico. A decisão, veio depois de denúncias sobre maus-tratos e condições precárias e foi motivo de comemoração entre muitos ativistas. Todos os animais em condições de serem transportados serão levados para reservas ecológicas do país e do exterior. Para a maior parte deles, essa será a primeira vez que verão o mundo sem grades.

Em Mendoza, do outro lado do país, no sopé dos Andes, a situação é parecida. Poucos dias antes, o zoológico local anunciou que, somente em 2016, 70 animais morreram em decorrência das condições nas quais são mantidos. Com capacidade para 850 bichos, o local tem, no momento, mais de 2.000. O governo da cidade também expressou interesse em encerrar as atividades do zoológico. Há, em toda a Argentina, uma tendência em transformar esses espaços em locais de preservação de espécies em extinção, em especial das espécies típicas da região.

Não há eufemismos para isso: zoológicos são prisões animais. É inegável que possuem uma função educativa importante e ajudam a conscientizar as novas gerações (e as nem tão novas assim) da importância de se preservar espécies animais dos mais diversos ecossistemas. Quem não se lembra da primeira vez que viu um elefante com seus próprios olhos? Em uma entrevista à BBC, David Williams Mitchell, porta-voz da Associação dos Zoológicos e Aquários da Europa, afirma: “A razão original dos Jardins Zoológicos se mantém hoje em dia: que as pessoas possam apreciar animais que não podem ver todos os dias”.

Leia também: É possível um turismo verdadeiramente sustentável?

É preciso, no entanto, discutir se o lazer e a curiosidade humana são motivos suficientes para manter milhares de animais em cativeiro, longe de seus habitats naturais, em condições muitas vezes degradantes, forçados a abandonar comportamentos naturais e condenados a uma vida inteira sem liberdade. Com a tecnologia que coloca qualquer informação a um clique de distância, essa é mesmo a única forma de educar e conscientizar crianças sobre as diferentes espécies?

Williams ainda argumenta que os zoológicos são também centros de conservação e investigação que prestam apoio logístico a parques de preservação em todo o mundo. E esse pode mesmo ser o melhor argumento para a manutenção desses espaços. Mas será que todos os zoológicos do mundo cumprem esse papel? Certamente não os de Mendonza, de Buenos Aires ou de Belo Horizonte, onde eu costumava fazer piqueniques com amigos.

A verdade é que o número de zoológicos que de fato contribuem para a manutenção da biodiversidade de forma séria e responsável é muito pequeno. A maior parte deles serve apenas de circo para os visitantes sem nada melhor para fazer nas tardes de domingo.

Na mesma reportagem da BBC, um veterinário afirma que uma vez precisou salvar um leão marinho que havia ingerido um pacote de batata-frita. Quando há um fluxo tão grande de pessoas, controlar esse tipo de incidente é uma missão impossível. Assim como impedir que batam nos vidros, tirem fotos com flash na cara dos animais, agitem as jaulas, gritem e perturbem a vida dos pobres prisioneiros.

E ainda tem a questão do ambiente. Muitos até tentam, mas como reproduzir a savana africana, a floresta amazônica ou as geleiras da Antártida em um espaço de mil metros quadrados? Colocar uma plantinha aqui e uma pedra ali é possível, mas isso substitui mesmo os rios, a flora, a presença iminente de presas e predadores? Impossível crer que, mesmo nos melhores zoológicos, as condições naturais de vida dos animais sejam respeitadas.

Por tudo isso, deixo aqui meu apelo: que os governos do mundo sigam o exemplo argentino e comecem a abrir mão de suas prisões animais. Enquanto isso não acontece, só nos resta fazer nossa parte. Já há algum tempo os aquários e zoológicos não fazem mais parte dos meus roteiros turísticos. Se é para ver animais, prefiro deparar-me com eles em seus ambienteis naturais, onde são livres como devem ser.

Eu te ajudo a cair na estrada também!

Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens.

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Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade digital. Atuo como Publisher Independente desde 2010 e sou especialista em Escrita Criativa, Estratégia de Conteúdo Digital e Jornalismo de Viagem. Sou co-criadora do renomado blog de viagens 360meridianos, LinkedIn Top Voice 2024, e autora da newsletter Migraciones. Nas redes sociais, atendo sempre pela arroba @natybecattini.

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