10 Livros indispensáveis sobre Escrita Criativa
“Esse livro é curto porque a maioria das obras sobre a escrita está cheia de baboseiras.”
– Stephen King
Assim começa o segundo prefácio de Sobre a Escrita, uma espécie de manual autobiográfico que percorre a trajetória de Stephen King na arte de juntar palavras, o que ele sabe sobre o ofício e como se faz para sentar a bunda na cadeira todos os dias e sair com um livro pronto em três meses.
Ele já acalentava a ideia de escrever um livro com suas técnicas de escrita por mais de um ano quando, sem querer, uma amiga lhe deu o empurrão que faltava. “Ninguém nunca me perguntou sobre a linguagem”, disse ela, quando questionada sobre o tipo de dúvida que nunca aparecia em palestras com escritores. Antes que essa luzinha se acendesse em sua mente, King não estava seguro se teria algo útil, interessante ou diferente para dizer.
Dúvida infundada. Um dos escritores mais bem sucedidos do mundo, com dezenas de livros publicados, muitos deles grandes best sellers, com certeza teria algo a aportar aos meros mortais que se interessam pela profissão. E, para ele, é isso: tudo passa pela linguagem. É nisso que devemos focar, deixando de lado todas as outras baboseiras de charlatanices literárias e transcendentais que há por aí.
Contado com toda a naturalidade do mundo, como se fosse uma conversa de bar, Stephen King faz uma trajetória de sua vida, narrando todos os acontecimentos que o transformaram no escritor que é hoje. Desde a infância, quando tentava vender as histórias que escrevia para sua família, até o momento em que trabalhou como professor de inglês e tentava publicar contos em revistas, sobre como quase desistiu do primeiro livro, Carrie, a Estranha, mas foi impedido por sua mulher, e o processo de criação dessa e de outras histórias que amamos.
Escrever é um ofício quase artesanal. E, para encadear palavras uma atrás da outra e dar-las forma e significado é preciso não apenas prática e um pouquinho de talento, mas também algumas ferramentas essenciais do escritor. É isso que afirma Stephen King na segunda parte do livro, que poderia ser também uma aula de escrita.
Ali ele nos conta tudo aquilo que ele acredita ser importante saber sobre o ofício. E ele está cheio de dicas legais para passar. Para ele, cada escritor tem uma caixa de ferramentas que ajuda na tarefa de construir uma história. Na primeira prateleira está o vocabulário, nossos pregos e porcas. Quanto mais vocabulário você tiver, melhor, mas é preciso saber empregá-lo bem para fazer um bom trabalho.
Logo em seguida, vem a gramática. King lembra que a língua é a principal ferramenta de trabalho do escritor e que é preciso dominá-la bem. Para isso, é importante ler bastante e interiorizar as regras gramaticais para evitar erros e construções estranhas. O estilo vem em seguida, técnicas que são aprendidas com a prática da escrita (e ai a importância da dupla “ler muito e escrever muito”).
Ele nos encoraja a não ter medo e a colocar a mão na massa. Afinal, a caixa de ferramenta é inútil se não for para nos ajudar a talhar histórias. Ele ainda discorre sobre o processo de criação de uma narrativa, a importância da revisão e sobre o mercado editorial. Tudo isso citando exemplo de autores conhecidos, como H.P. Lovecraft, Hemingway e Tolkien, apontando o que ele considera seus erros e acertos.
Cada escritor possui uma caixa de ferramentas únicas e baseadas em suas experiências pessoais. Por isso é impossível que dois autores escrevam exatamente a mesma história. Se as suas ferramentas estão enferrujadas, sempre é possível polí-las e deixá-las prontas para o uso outras vez. Carregue-as consigo em cada trabalho.
Vocabulário
O vocabulário é a ferramenta mais básica do escritor. Você deve se sentir confortável ao usá-la. A melhor forma de expandir seu vocabulário é através da leitura. É por isso que todo escritor é, antes de nada, um leitor. Se você não tem tempo para ler, você não tem tempo para ser um escritor.
Prefira as palavras mais simples e cotidianas em vez de substituí-las por outras que podem parecer mais rebuscadas, porém provavelmente terão um significado um pouco diferente do que você queria passar. Sempre diga exatamente aquilo que você quer dizer e, para isso, escreva de forma sucinta e acessível.
Gramática
Sentenças completas devem dominar o seu texto, porém parágrafos e parágrafos cheios delas podem tornar a narrativa rígida e pouco fluida, principalmente na ficção. Usar fragmentos pode ser útil para dar um toque de suspense e para variar no tamanho e estilo das frases. No entanto, o principal motivo porque você deve conhecer as regras antes de quebrá-las é que as regras devem ser seguidas na maior parte do tempo. Por isso não exagere com os fragmentos ou com qualquer outra transgressão. Há uma grande diferença entre um fragmento bem colocado e uma zona gramatical.
Para King, a voz passiva e os advérbios são recursos pobres de “escritores tímidos”. A voz passiva é “segura”, uma vez que não há ação alguma para lidar. O escritor não precisa lidar com o sujeito, apenas deixa a ação acontecer por si só.
Advérbios, por outro lado, são recursos empregados por escritores que têm medo de que o leitor não entenda a mensagem ele está tentando passar. Tente criar a atmosfera e o estilo da ação descrita pelo advérbio com ocorrências prévias na cena. Confie na capacidade do seu leitor de capturar essa atmosfera.
O conselho de King sobre gramática é parecido ao conselho sobre vocabulário: escreva da forma como te vem naturalmente. Correção gramatical é fundamental, porém você deve ser apto a interiorizar as regras da sua língua de forma intuitiva através da leitura. Algumas estruturas, por mais que sejam corretas, devem ser evitadas caso não soem naturais ou espontâneas.
Parágrafos
Embora alguns tipos de texto exijam uma estruturação mais rígida dos parágrafos, como a dissertação, o fluxo da escrita de ficção deve ser mais solto. Tentar estruturar demais o formato dos parágrafos pode atrapalhar a criação. Parágrafos devem ser formatados de acordo com a atmosfera e o ritmo da cena. Por exemplo, um clímax pode pedir alguns parágrafos de uma frase para gerar o clima de suspense necessários. Da mesma forma, alguns livros podem incluir parágrafos que vão por páginas e páginas. Não há tamanho ideal.
Descrições
Descrever demais pode entediar o leitor e enterrar suas imagens mentais. Descrever de menos pode deixá-los perdidos. Em geral, bastam alguns parágrafos curtos sem muitos adjetivos para descrever uma cena. Tente mexer com todos os sentidos do leitor para oferecer um panorama mais completo.
Descrever um lugar também inclui os sons, o cheiro, a visão e talvez até o tato e o paladar. Já a descrição de personagens deve contar com algumas poucas informações e detalhes bem escolhidos, aquelas que melhor os descrevem.
Diálogos
Você deve buscar retratar as experiências e características de seus personagens ao escrever um diálogo. Se você for muito rígido, seu personagem soará robótico ou clichê. Não tenha medo de criar suas próprias palavras ou de usar palavrões se for o caso, não evite essas coisas apenas para agradar a audiência. Seja fiel ao personagem que criou.
Tema
Não se preocupe demais em descobrir sobre o que é a sua história. Embora símbolos e arquétipos saltem das páginas de tempos em tempos, sua preocupação maior deve ser com a narrativa. Após o primeiro rascunho, busque os padrões e assuntos e procure descobrir o que a história conta a você e às pessoas em geral. Só então procure trazer o tema mais à luz.
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