Publicidade

Ensaiei por muito tempo essa estreia.

Dar partida nesta newsletter foi um item em aberto em várias listas pelo que parecem eras. Estava na minha lista de objetivos do ano passado e desse ano também. Por semanas, se repetia entre as minhas tarefas, até que chegava a segunda-feira seguinte e ela ainda estava lá, sem riscar, um lembrete incômodo da minha própria resistência em fazer qualquer coisa que seja importante para mim.

Escrever tem sido um processo doloroso por aqui, mas não foi sempre assim. Em algum ponto dessa vida foi algo quase natural. Era o que eu fazia para me divertir ou tirar qualquer coisa que estivesse engasgada dentro de mim. Antes de ser um trabalho, escrever era minha terapia.

Eu me lembro da minha primeira história. Eu tinha sete anos e precisava escrever sobre um retalinho de pano, baseado em um conto que lemos na aula de literatura. Todos chegaram na escola com retalhos bonitos de xadrez colorido colados no caderno, provavelmente feitos com a ajuda dos pais. Mas de alguma forma eu sentia que aquilo era importante para mim e quis fazer sozinha e por isso o meu não era tão bonito, mas era o único que tinha braços e pernas e se movia. Escrevi sobre um retalho que queria fugir da costureira e na tentativa implantava o caos na sala de costura. Me parecia uma boa história. Tive orgulho dela.

Na adolescência, passei tardes e mais tardes escrevendo fanfics do Harry Potter e histórias que envolviam os segredo que as freiras do colégio escondiam nas áreas restritas aos estudantes. Minha escola era tão parecida com Hogwarts quanto poderia ser uma escola trouxa que não funciona em um castelo da Escócia: cheia de corredores proibidos e depósitos de objetos estranhos e antigos que ninguém queria explicar para que serviam. Um cenário que se mostrou muito prolífico para a minha imaginação. Encontrei, anos mais tarde, essas histórias salvas em um disquete e as guardo até hoje como uma forma de contar também a minha própria história.

Então, o que mudou? A resposta óbvia é que hoje eu escrevo para viver e para ser lida e isso acrescenta uma enorme carga de responsabilidade e medo e formalidade na coisa toda. Deixei de sonhar com ser escritora para sê-lo de fato e, como qualquer sonho que se concretiza, bate aquela insegurança de sujá-lo com a imperfeição da realidade e estragar algo que foi tão incrível e tão desejado durante tanto tempo.

Mas tem uma outra coisa: tenho uma dificuldade absurda de me abrir. É difícil para mim falar sobre o que passa por debaixo da camada epitelial, um problema que já assombrou alguns relacionamentos e que enfrentei até mesmo na segurança da sala de terapia.

Em algum momento dessa trajetória de escrita, tive um blog bastante intimista no qual escrevia pequenos poemas e crônicas. Foi em 2008, um ano particularmente difícil e maravilhoso e triste ao mesmo tempo, momento no qual eu passei por processos muito intensos, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora. Acho que as coisas que eu escrevi ali foram as mais honestas e pessoais que eu já permiti que se tornassem públicas, mas abandonei aquele endereço do blogspot quando muitos amigos se inteiraram dele. O blog se chamava “Palavras Que Não Vêm”, já uma referência a essa briga interna entre o desejo e a completa impossibilidade de me expressar da forma como eu gostaria.

A história muda, é claro, quando posso vestir a máscara de jornalista. Escrever para o 360meridianos tem sido fácil e divertido, ainda mais depois que acertamos as arestas da nossa proposta editorial. Ali sou, na maior parte das vezes, uma observadora protegida pela distância da terceira pessoa. É instigante falar dos outros em cores e detalhes, encontrar a melhor forma de contar suas histórias e descrever todos os sentimentos e sensações que atravessam nossos corpos quando visitamos um lugar pela primeira vez. O difícil é me colocar no texto e deixar transparecer as vulnerabilidades e as cores e os detalhes que eu mesma não consigo perceber em mim com tanta clareza assim. E é essa habilidade que eu quero encontrar aqui. Porque, escrever, no fim das contas, tem muito a ver com se expor.

QUOTE

“Eu acho que a realidade, no Brasil, é uma ficção. Em qualquer país também é, mas no Brasil a gente conhece. O Brasil é uma ficção. Minas Gerais foi escrita por Deus, Diabo, Shakespeare, Tolstoi e por aí.” – Roberto Drummond

Eu te ajudo a cair na estrada também!

Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens.

Publicidade
Natália Becattini

Sou jornalista, escritora e nômade digital. Atuo como Publisher Independente desde 2010 e sou especialista em Escrita Criativa, Estratégia de Conteúdo Digital e Jornalismo de Viagem. Sou co-criadora do renomado blog de viagens 360meridianos, LinkedIn Top Voice 2024, e autora da newsletter Migraciones. Nas redes sociais, atendo sempre pela arroba @natybecattini.

Recent Posts

Nômade Digital em Cuba: Como viver e trabalhar na ilha

Conhecer Cuba e ver de perto a tão falada ilha sempre foi um sonho de…

5 days ago

Como solicitar reembolso com o seguro da safetywing

Viajar é uma aventura maravilhosa e a gente nunca sabe direito o que vamos viver…

1 month ago

Taller Leñateros: Uma fábrica de papel e sonhos em San Cristóbal de las Casas

Lorenza Pérez e Mari López se debruçam sobre um tanque repleto água e uma massa…

2 months ago

Melhores cafés para trabalhar em São Paulo

Procurando bons cafés para trabalhar em São Paulo? Ou simplesmente um lugar agradável para ler…

2 months ago

Brand Publishing: A Nova Era da Comunicação de Marca

Há alguns meses, recebi um convite para participar da Ads Academy, uma iniciativa da Creators…

3 months ago

São Jorge e a esquecida arte de dar livros

O primeiro aniversário que me lembro bem foi aquele em que completei sete anos. Na…

3 months ago
Publicidade

This website uses cookies.