Uma das coisas que eu mais gosto na vida nômade é a sensação de sempre estar pronta para começar outra vez. Toda mudança de cidade é o fim de um ciclo e o começo de outro. E o sentimento ambíguo de deixar um lugar para trás se confunde a expectativa do novo: o encantamento de andar por uma rua pela primeira vez, descobrir onde fica o supermercado, qual o melhor dia da feira, onde que eu vou caminhar pela manhã, qual o melhor café para trabalhar e qual bar tem a cerveja mais gelada.
A magia dos recomeços sempre me encantou. A cada novo ano na escola, eu enxergava uma oportunidade de me reinventar. Quando pequena, fantasiava que um dia minha família se mudaria de cidade e eu começaria em um novo lugar, com novos amigos, um novo uniforme, uma história interessante para contar. Novos cadernos, então, são amuletos de recomeço. Páginas em branco, literais e metafóricas, contém o infinito das possibilidades.
Minha bisavó também tinha essa inquietação nômade. Isso eu ouvi falar, porque não a conheci. Diz uma tia que ela era assim: passava um tempo em um lugar, montava uma casa, ajeitava uma rotina para a família. Daí se cansava. Fazia as malas e ia embora outra vez com os filhos no rabo da saia, achar uma nova cidade, montar uma nova casa, criar uma nova rotina. Vai ver eu puxei isso dela.
Desde que comecei a viajar de forma constante, cada novo destino me traz também uma nova casa, uma nova rotina, um idioma para aprender, nem que for o básico. Falar com pessoas pela primeira vez me permite ser quem eu quiser ser, uma versão de mim livre das muitas versões que já fui no passado e, hoje, só existem na minha memória e nas de quem conviveu com elas.
Gosto de passar tempo suficiente em um lugar para fazer dessa terra distante também uma casa. E, então, ir embora.
Vivo em paz com a sensação de não ter um único lugar no mundo: me aproprio um pouco de todos, e os carrego comigo para onde vou. Levo comigo o gosto por tomar um Aperol no fim da tarde e a vontade organizar churrasco nos parques quando o tempo está bom; o entendimento de que sopa pode ser café da manhã, e que tapas são uma refeição completa; o apreço por temperos fortes e a resistência adquirida aos picantes; a sensação de que uma ida ao mercado é uma aventura e, ainda mais, de que a vida pode ser tão múltipla quanto suas possibilidades.
“Todos precisamos ter para onde retornar”, ouvi uma vez na terapia. Mas ouvi também que esse onde não precisa ser, necessariamente, um ponto no espaço. Pode ser um sentimento, recordações, pessoas. Desde então, tem sido assim: se carrego em mim meu próprio lar, vou também encontrando por aí pessoas-âncoras. Faço delas meu lugar de retorno.
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