Faz um tempo, montei um pequeno roteiro para fãs do Gabriel García Márquez com alguns cenários de seus livros e lugares que marcaram sua passagem por Cartagena das Índias. A pesquisa me mostrou a raiz de suas ideias, de como ele transformava pequenos casos e personagens da cidade em grandes história, e isso me fez refletir sobre o trabalho de escrita: absorver a realidade e transformá-la em palavras bonitas em um papel.
Tudo é auto-biográfico. Certo? Quando é você e o cursor piscante na folha em branco, tudo o que você tem para usar são suas experiências, os conhecimentos que você acumulou e as referências que recolheu até ali. E a realidade é um terreno fértil para a ficção, mesmo uma ficção repleta de magia. “Todos os meus livros tem algum cabo solto com relação a alguma história que eu vi ou vivi em Cartagena”, disse o escritor certa vez em uma entrevista para um documentário.
Gabriel García Márquez soube muito bem enxergar a mágica das situações cotidianas e transformá-las em histórias. Passava as tardes no bairro Getsemaní, na época considerado uma área marginal, passeando pelos mercados populares, conversando com os pescadores e imigrantes que chegavam por ali. Muito do que ele escutou acabou em seus livros. Aureliano Buendía, de Cem Anos de Solidão, nasceu anos depois que alguém lhe contou sobre um general que havia sobrevivido a muitas guerras.
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O Amor nos Tempos do Cólera foi em parte inspirado no casamento de seus pais — dificultado pela família de ambos por pertencerem a diferentes classes sociais —, em parte pelo contraste entre o clima festivo da cidade e a melancolia que ainda se sentia nos portos e ruas por onde passaram tantos escravos, em parte por observar a dinâmica social da aristocracia local. Os datilógrafos que redigiram as cartas de amor de Florentino a Fermina ainda se agrupam do lado de fora da cidade amuralhada.
Quando trabalhava como repórter em um jornal dali, foi enviado para cobrir a descoberta de uma múmia de uma menina com 22 metros de cabelo que estava enterrada debaixo de um antigo convento. Essa foi a faísca de Do Amor e Outros Demônios. García Marquez bebeu tanto na vida real que um amigo seu, de visita à cidade, o acusou de ser apenas “um tabelião sem imaginação alguma”, ao reparar como Cartagena havia sido plasmada em seus livros.
E isso me fez pensar que boa parte do trabalho de escrever é viver e observar.
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