Dentre os muitos livros nos quais eu trombei por aí durante a minha pesquisa sobre Escrita Criativa e que acabaram entrando para a minha lista de próximas leituras, Escrevendo com a alma, de Natalie Goldberg (Writing Down the Bones, em inglês) me chamou a atenção. Tanto que ele foi o primeiro que eu comecei a ler. O motivo, no entanto, eu não sei dizer bem. Talvez tenha sido o nome, ou a sinopse, ou a quantidade de indicações que vi por aí.
Mas que bom que foi assim! Escrevendo com a alma é um ótimo primeiro livro para quem quer começar a aprender mais sobre essa história de juntar palavras. Tanto que vários críticos o consideram uma leitura básica sobre as técnicas de Escrita Criativa. É um livro introdutório, de leitura rápida e tranquila, que chega para sanar todas as suas dúvidas a respeito da sua capacidade e potencial para escrever e te ensina a acessar o seu repertório, a se conectar com o mundo ao redor e a transformar o que você viu, ouviu e sentiu em palavras.
Com uma vasta experiência com oficinas de escrita e na produção de seus próprios textos — Natalie é poeta -, a autora compilou diversas dicas e reflexões sobre como podemos transformar a escrita em uma parte de nossas vidas. Como desbloquear nosso potencial criativo, o que escrever quando a página em branco te encara e como separar o escritor e o editor que coexistem dentro de você são algumas das perguntas que Goldberg tenta responder ao longo de Escrevendo com a alma.
O mais interessante no livro foi, para mim, a abordagem que Natalie dá ao oficio de escrever. Segundo ela, todos temos o desejo de contar as nossas histórias e descobrir nossa própria voz. No entanto, acabamos sufocados pelas expectativas que criamos a respeito de como nosso texto deveria ser, pelo medo da opinião alheia ou mesmo por duvidarmos do nosso talento. Uma pena: a escrita é uma poderosa ferramenta de auto-conhecimento e aceitação e deveria ser usada por todos como uma forma de desenvolvimento pessoal.
Pensando na universalização da prática da escrita, Natalie sonhou — e conseguiu — que seu livro fosse adotado por escolas de Ensino Médio. Para ela, escrita criativa deveria ser assunto obrigatório nos colégios. Talvez por esse objetivo pedagógico, Escrevendo com a alma é dividido por lições ou “aulas”, cada uma delas abordando um aspecto diferente das coisas que afligem aspirantes e escritores.
Muitas vezes, a autora se contradiz no texto, dizendo exatamente o oposto do que tinha dito páginas antes. Isso é previsto e explicado logo na introdução. Para ela, não existem fórmulas absolutas para a arte e é preciso que cada um absorva os conselhos que ela dá e devolva para o mundo sua própria maneira de escrever.
Fica evidente, ao longo das páginas de Escrevendo com a alma, a influência do Budismo Zen na técnica da autora, que estudou a filosofia por muitos anos. A escrita é tratada por ela como uma atividade transcendental, que nos faz entrar em contato com nosso eu mais profundo. Não há diferenças entre o texto, a vida e a mente.
Leitura recomendadíssima para todo mundo que gosta de colocar pensamentos no papel, que já ficou travado diante de um cursos piscante, para quem acha que não tem nada a dizer e para qualquer pessoa que se interesse pela arte de encadear palavras.
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