Em abril de 2025, participei como painelista da mesa “WOW! Turismo do Futuro”, promovido pelo KAYAK Brasil durante o seminário da ABBV (Associação Brasileira de Blogs de Viagem).
O painel marcou o lançamento de um relatório global que analisa como novas tecnologias, comportamentos sociais e mudanças culturais estão redesenhando o futuro das viagens.
O estudo foi desenvolvido pelo KAYAK em parceria com o The Future Laboratory, com base em entrevistas com mais de 9 mil viajantes em 8 países (incluindo o Brasil), todos com o hábito de fazer ao menos uma viagem internacional de lazer por ano. O objetivo foi traçar o que podemos esperar do setor até 2030 e o resultado foi a identificação de oito megatendências que já começam a se desenhar:
- Agentes de IA
- Feedbooking
- Programas de Deslealdade
- Viagens Virtuais
- Vitamina V
- Escapadas Espirituais
- Viagens Fora da Rota
- Multidestinos
Durante a mesa, contribui com reflexões a partir de três dessas tendências: Feedbooking, Viagens Virtuais e Multidestinos, temas que fazem parte da minha vivência cotidiana como viajante, jornalista e criadora de conteúdo especializada no tema.

Feedbooking: o conteúdo como ponto de partida para a reserva
Um dos dados mais marcantes do relatório é que 62% da Geração Z buscam inspiração de viagem diretamente nos seus feeds. E mais: até 2030, as redes sociais devem evoluir para superaplicativos nos quais o usuário poderá ir da inspiração à reserva com um único clique, muitas vezes, a partir de um like.
Comentei durante a mesa que essa mudança já está acontecendo:
“Essa é uma oportunidade para criadores que estão vendo o tráfego orgânico dos mecanismos de busca minguar. O conteúdo deixou de ser só inspiração e virou uma ponte direta para a ação. Hoje, um vídeo pode ser o gatilho de uma viagem inteira. Isso muda completamente a nossa responsabilidade como criadores.”
Na prática, isso significa que o papel do influenciador está deixando de ser apenas aspiracional para se tornar transacional e consultivo. Mais do que mostrar belas imagens, precisamos oferecer informação de qualidade, transparência e repertório. O conteúdo se torna, ao mesmo tempo, storytelling, curadoria e motor de conversão.
Viagens Virtuais: testar antes de viajar
Outra tendência discutida foi o avanço das experiências imersivas em realidade aumentada e realidade virtual. A expectativa é que os viajantes possam “testar” um destino antes de comprar, por meio de passeios virtuais em 4D, visitas a quartos de hotel em ambientes simulados ou até mesmo experiências sensoriais guiadas por óculos de VR.
Durante o painel, compartilhei como esse cenário pode impactar o nosso trabalho como criadores:
“Mesmo com toda a tecnologia, o fator humano ainda faz diferença. Se o viajante vai conseguir ‘testar’ um destino virtualmente, nosso desafio será, mais do que nunca, emocionar, gerar conexão real. Autenticidade e personalidade contarão mais que nunca.”
Isso porque, enquanto a tecnologia pode oferecer informação visual e técnica, os criadores ainda serão a ponte para o intangível: sensações, nuances culturais, imprevistos… tudo aquilo que só quem esteve lá de verdade consegue traduzir. O futuro do conteúdo, nesse sentido, não será de competição com a realidade virtual, mas de se tornar mais sensorial, mais íntimo e mais honesto.
Multidestinos: roteiros com mais propósito e diversidade
A terceira tendência sobre a qual falei tem a ver com o novo comportamento do viajante que não quer se limitar a um único destino. O relatório aponta que até 2030 será cada vez mais comum realizar viagens mais longas, com múltiplas paradas, muitas vezes combinando diferentes países, experiências ou estilos de turismo em um único roteiro.
Como alguém que começou nas viagens com uma volta ao mundo e que até hoje prefere explorar rotas menos óbvias, compartilhei como isso já faz parte da minha vida e da curiosidade do meu público:
“Para muita gente, o novo luxo é ter tempo para explorar mais de um lugar. Meus seguidores estão cada vez mais interessados em roteiros dinâmicos, que misturam cultura, natureza e experiências autênticas e querem entender como isso é possível na prática.”
Essa tendência também traz reflexões sobre sustentabilidade, descentralização do turismo e democratização de experiências culturais. Planejar uma viagem multidestino exige mais pesquisa, planejamento e repertório, mas também permite que o viajante fuja do óbvio e monte um roteiro que reflita seus valores e interesses.
Outras tendências que valem atenção

Mesmo sem ter falado diretamente sobre elas no painel, as outras cinco tendências do relatório merecem destaque:
Agentes de IA
A inteligência artificial deixará de ser suporte para se tornar parceira de viagem. De assistentes que otimizam reservas a algoritmos que montam roteiros personalizados com base em seu comportamento digital, a IA deve ser cada vez mais integrada à jornada do viajante. Isso exige um olhar crítico sobre personalização x privacidade, e também traz novas oportunidades para criadores e empresas.
Programas de Deslealdade
O que vale mais: pontos ou economia imediata? A nova geração de viajantes tem mostrado menor fidelidade a marcas e programas de milhagem tradicionais. O que pesa agora é o valor percebido e isso inclui experiências, não apenas preços. Plataformas precisarão ir além do “mais barato”, entregando diferencial em experiência, recompensa emocional e utilidade.
Vitamina V
Essa tendência aponta para viagens como prescrição de bem-estar. Lugares que oferecem saúde mental, revitalização e bem-estar físico ganham destaque. O turismo se mistura com autocuidado e destinos que investirem nisso (com natureza, alimentação, silêncio, sono, conexão com o corpo) vão sair na frente.
Escapadas Espirituais
Mais do que relaxar, a busca é por significado. Retiros de meditação, banhos de gelo, vivências em comunidades, astrologia, yoga ou espiritualidade ancestral. A viagem passa a ser um portal para transformação pessoal e isso abre espaço para conteúdos mais profundos, experiências mais simbólicas e narrativas com alma.
Viagens Fora da Rota
Com o turismo em massa gerando saturação em destinos famosos, cresce a valorização de lugares autênticos, desconhecidos, que ainda guardam a sensação de descoberta. Isso dialoga diretamente com a busca por experiências únicas, pela descentralização do turismo e por práticas mais sustentáveis.
Foi uma honra contribuir com essa conversa ao lado de Adriana Maia (KAYAK LATAM), Lucas Lins (Embratur), Heber Garrido (Parquetur) e com mediação da Renata Porto.
Sair da bolha do conteúdo e participar de um debate com foco em inovação estratégica no turismo reforçou o quanto nosso trabalho como comunicadores pode (e deve) dialogar com o futuro do setor.
Se você trabalha com turismo, marketing, tecnologia ou criação de conteúdo, recomendo fortemente a leitura do relatório completo: https://www.kayak.com.br/wtf-relatorio
Eu te ajudo a cair na estrada também!Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens. |