Esses 11 livros de jornalismo de viagem foram selecionados para quem sonha em mergulhar nesse universo e tem dúvidas: por onde começar? Como capturar a essência das minhas experiências em palavras que transportem o leitor para os lugares que conheci?
Quando falamos em jornalismo de viagem, muitos podem imaginar apenas relatos de belas paisagens e dicas de hotéis luxuosos. Mas, para aqueles com a alma inquieta, o jornalismo de viagem vai muito além: é um conhecer profundamente as culturas, os conflitos e as histórias escondidas nas dobras do mapa. E, principalmente, se permitir os encontros humanos que definem o espírito de um lugar.
Entendemos que a literatura é uma bússola essencial entender o jornalismo de viagem. Por isso, os livros mostrados aqui são mais do que guias; são passaportes literários para entender a arte de contar histórias que não apenas informam, mas também transformam.
Do impacto emocional de “Ébano” de Ryszard Kapuściński às jornadas introspectivas de Paul Theroux em “O Grande Bazar Ferroviário: De Trem pela Ásia”, prepare-se para explorar os recantos mais profundos do jornalismo de viagem e, quem sabe, encontrar o estilo, a voz e a visão que definirão sua escrita.
Embarque conosco nesta viagem literária e descubra como esses mestres do gênero nos ensinam a olhar o mundo com olhos mais curiosos, críticos e apaixonados. Vamos lá?
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11 livros essenciais do Jornalismo de Viagem
Veja agora uma resenha com a lista dos meus livros favoritos de Jornalismo de Viagens, selecionados depois de 12 anos trabalhando com o tema. Se você quer se aprofundar no tema, leia também meu post sobre O que é Jornalismo de Viagem e como trabalhar com isso e 10 livros de jornalismo literário para te inspirar.
1. Não Conta lá em Casa, André Fran
Conhecido por suas aventuras televisivas no extinto programa “Não Conta Lá em Casa”, André Fran nos transporta do sofá diretamente para a realidade crua de locais marcados por conflitos e histórias complexas em seu livro homônimo.
“Não Conta Lá em Casa” é mais do que um diário de viagens; é um mergulho na profundidade humana e geográfica de lugares que muitos nunca sonhariam em visitar. O livro desafia a noção tradicional de turismo e nos convida a olhar além dos cartões-postais, instigando uma curiosidade quase rebelde sobre o mundo.
Com uma narrativa pessoal e envolvente, Fran compartilha suas experiências em destinos como Coreia do Norte, Afeganistão, e Chernobyl, entre outros. As páginas transbordam com encontros íntimos, percepções perspicazes e um toque de humor que suaviza a dureza dos fatos.
É impossível não se sentir parte da jornada, torcendo em cada situação tensa e refletindo sobre os contextos de cada lugar visitado.
“Não Conta Lá em Casa” é um manifesto sobre a importância do jornalismo de viagem que se arrisca, que busca histórias onde elas estão sendo vividas, e não apenas contadas.
André Fran constrói pontes entre nós e aqueles cujas vozes são frequentemente esquecidas ou ignoradas, mostrando que há sempre humanidade por trás de manchetes, mesmo nos cantos mais esquecidos do planeta. Para viajantes, jornalistas, ou qualquer pessoa que valorize as histórias humanas, este livro é uma leitura essencial.
2. Sovietistão, Érika Fatland
Em “Sovietistão”, Érika Fatland nos oferece uma janela para uma região pouco conhecida e muitas vezes incompreendida: as repúblicas da Ásia Central que um dia fizeram parte da União Soviética. O livro é uma exploração profunda de cinco ‘istãos’: Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão.
Cada capítulo é uma fusão de história, política e relatos pessoais, tecendo narrativas que capturam a essência de cada nação com uma proximidade que só pode ser alcançada através da experiência direta.
Fatland, uma socióloga treinada e uma viajante consumada, se aventura além dos estereótipos para revelar a complexidade da vida pós-soviética. Com um olhar atento para detalhes e um domínio para o storytelling, ela narra encontros com personagens fascinantes, desde líderes autoritários até cidadãos comuns, todos moldados de maneiras distintas pela sombra longa e ambígua do antigo Império Soviético.
O livro brilha ao intercalar momentos de leveza e humor com a análise aguda das realidades políticas e sociais destas nações.
“Sovietistão” não é apenas um relato de viagem; é uma obra sobre a identidade, resiliência e o espírito humano.
Fatland consegue o equilíbrio entre ser informativa e profundamente humana, empurrando o leitor para uma jornada que é tão educacional quanto é emocionante.
3. Europa – Reportagens Apaixonadas, de Ronny Hein
“Europa – Reportagens Apaixonadas” de Ronny Hein é uma coleção de crônicas que oferece um novo olhar sobre o continente europeu. Hein, com seu estilo perspicaz e envolvente, transcende as expectativas convencionais de um guia de viagem para apresentar uma série de histórias que, juntas, montam um retrato da Europa com certa admiração e uma curiosidade insaciável.
Cada capítulo é uma cápsula do tempo e do espaço, levando o leitor a uma viagem pessoal através de ruas históricas, paisagens bucólicas e encontros com as pessoas que fazem deste continente um grande mosaico cultural.
Neste livro, Hein não se contenta em simplesmente descrever locais e eventos; ele os vivencia de corpo e alma, e essa entrega se reflete em sua escrita. As reportagens variam desde a grandiosidade de Paris até a quietude de vilarejos esquecidos, capturando tanto a majestade quanto a simplicidade da vida europeia.
Há uma qualidade lírica em sua prosa, que nos faz sentir como se estivéssemos caminhando ao seu lado, absorvendo a atmosfera e os sons que compõem a trilha sonora da Europa.
“Europa – Reportagens Apaixonadas” é um convite para ver o velho continente através de uma lente mais pessoal e reflexiva. O autor consegue equilibrar o seu evidente fascínio pela Europa com um olhar crítico sobre suas complexidades e contradições.
4. A Ilha, Fernando Morais
Em “A Ilha”, Fernando Morais nos leva em uma jornada ao centro social e político de Cuba, oferecendo uma visão rica e multifacetada que vai além dos clichês tropicais e dos discursos políticos polarizados. O livro é uma coleção de relatos que Morais compilou durante sua estadia na ilha na década de 1970, uma época de grandes tensões e transformações.
Através de entrevistas detalhadas, encontros pessoais e observações próprias, Morais desdobra a complexidade de uma sociedade em constante ebulição, mostrando o cotidiano dos cidadãos e a cultura por trás da superfície política.
Morais, com sua habilidade de contador de histórias, não pinta apenas um retrato do líder cubano Fidel Castro, mas também dá voz a personagens que raramente são ouvidos: os camponeses, os artistas, os dissidentes e as crianças. Ele navega pela beleza e pelas contradições de Cuba, escrevendo com um estilo que é tão envolvente quanto informativo.
“A Ilha” é um testemunho da humanidade encontrada nos cantos mais inesperados, apresentando um país que, apesar de suas dificuldades e desafios, é repleto de paixão, resiliência e que possui um sentido profundo de identidade.
“A Ilha” é mais do que um livro de viagem; é uma análise cultural e política contada com compaixão e sem preconceitos. Morais oferece uma perspectiva equilibrada que respeita a complexidade de seu assunto, recusando-se a simplificar ou romantizar a realidade cubana.
Para qualquer um interessado em entender Cuba para além dos estereótipos, este livro se mostra uma leitura essencial, oferecendo insights valiosos e uma narrativa que captura a alma de uma nação frequentemente mal interpretada.
5. Lugares distantes: Como viajar pode mudar o mundo, Andrew Solomon
Andrew Solomon, com sua obra “Lugares distantes: Como viajar pode mudar o mundo”, nos instiga a refletir sobre a viagem não como um mero ato de deslocamento, mas como uma poderosa ferramenta de transformação pessoal e coletiva. Através de uma série de ensaios que cobrem mais de uma dúzia de destinos ao redor do globo, Solomon, um explorador e observador de carteirinha, compartilha suas experiências profundas em culturas que muitos podem considerar periféricas ou extremas.
Ele mergulha em questões de identidade, aceitação e o eterno embate entre tradição e modernidade, propondo que ao expandirmos nossos horizontes físicos, somos igualmente compelidos a expandir nossos horizontes mentais e emocionais.
Cada capítulo é um convite para viajar lado a lado com Solomon enquanto ele navega por realidades muitas vezes desconcertantes, mas sempre enriquecedoras. Seja conversando com artistas na China, testemunhando as consequências da queda do comunismo na União Soviética, ou contemplando a intersecção da beleza e do sofrimento na África, ele traz uma voz que é ao mesmo tempo erudita e profundamente humana.
Sua prosa, repleta de empatia e curiosidade, permite que os leitores vejam através de seus olhos, descobrindo como as viagens podem servir como pontes entre o eu e o outro, o conhecido e o desconhecido.
“Lugares distantes” é um manifesto sobre o poder do deslocamento geográfico para provocar deslocamentos interiores. Solomon argumenta que as viagens têm o potencial de desafiar e mudar nossas percepções, preconceitos e até mesmo nossas ideologias mais arraigadas.
Para quem busca na viagem uma forma de intervenção social e pessoal, este livro é um recurso valioso, repleto de insights que só podem ser adquiridos através da experiência direta e reflexiva de estar, de fato, em outros lugares.
6. Travels, de Michael Crichton
“Travels”, de Michael Crichton, é uma coleção intrigante de relatos que mergulha o leitor nas diversas experiências do autor longe de sua zona de conforto, tanto geográfica quanto existencialmente. Conhecido mundialmente por seus thrillers científicos e aventuras fictícias, Crichton revela uma faceta pessoal neste livro, compartilhando com franqueza as lições aprendidas e as perspectivas ganhas enquanto percorria o globo.
Através de sua lente científica, ele explora não apenas paisagens naturais, que vão de selvas a pirâmides – mas também paisagens internas de consciência e autoconhecimento.
Em “Travels”, Crichton não se contenta em ser um mero observador; ele se atira em situações que desafiam seu entendimento do mundo e de si mesmo. Ele narra com habilidade suas aventuras, desde o exame da aura em Nova York até encontros com xamãs em florestas tropicais, sempre com uma mistura de ceticismo científico e uma abertura para o maravilhoso.
Seus relatos são mais do que histórias de viagens; são incursões em culturas e práticas esotéricas que o levam – e por extensão, nós, os leitores – a questionar a natureza da realidade e a profundidade da experiência humana.
Com uma prosa ao mesmo tempo esclarecedora e divertida, o autor oferece um olhar íntimo sobre a transformação pessoal que muitas vezes acompanha os viajantes em suas jornadas.
7. World Travel: A Irreverent Guide, Anthony Bourdain
“World Travel: An Irreverent Guide” é uma homenagem ao legado de um dos maiores contadores de histórias de viagem de nossa era, Anthony Bourdain. Este guia reúne as viagens, as histórias e as percepções do chef que se tornou uma celebridade por trazer ao mundo uma visão sem filtro sobre culturas através da comida.
O livro é estruturado como um compêndio de destinos que Bourdain explorou, oferecendo conselhos, anedotas e comentários francos sobre o que comer, o que fazer e como entender a essência de cada local.
Escrito com a colaboração de Laurie Woolever, assistente de longa data de Bourdain, o livro mantém o tom irreverente e perspicaz pelo qual Bourdain era conhecido. Ele captura a voz e o espírito de Bourdain através de dicas práticas e histórias pessoais que fazem você se sentir como se estivesse batendo um papo com o próprio homem, enquanto sentado em um bar sujo ou em um mercado agitado.
“World Travel” não é apenas um guia de viagem; é uma coleção de memórias e experiências que celebram a alegria da aventura, a importância do intercâmbio cultural e o poder unificador da comida.
O que torna “World Travel: An Irreverent Guide” uma leitura essencial não é apenas o conteúdo rico em detalhes sobre destinos fascinantes, mas também a sua capacidade de inspirar os leitores a abordar a viagem – e a vida – com curiosidade, respeito e uma disposição para se deleitar com os prazeres simples. É um convite para viver com mais profundidade, olhar para o mundo com olhos abertos e, talvez mais importante, para nunca parar de explorar.
Para os fãs de Bourdain e entusiastas de viagens que buscam inspiração para suas próximas aventuras, este livro serve como um passaporte vital para a compreensão global através das lentes de um ícone inconfundível.
8. Coleção The Passenger
The Passenger é uma publicação em formato livro-revista para os viajantes que procuram mergulhar profundamente nas correntes culturais, sociais e políticas dos destinos que exploram. Cada edição é uma imersão detalhada em um único país ou cidade, oferecendo uma coleção de ensaios, reportagens, análises e narrativas pessoais que destilam a essência do lugar.
Ao contrário dos guias de viagem convencionais, esta revista prioriza a compreensão sobre o roteiro, incentivando os leitores a compreenderem os contextos históricos e contemporâneos que moldam as experiências de viagem.
As histórias encontradas nas páginas de “The Passenger” têm uma qualidade literária, escritas por jornalistas e escritores que vivenciam profundamente as culturas sobre as quais reportam. A revista é um convite para desacelerar e refletir, para se engajar com um local em um nível mais considerado.
Os temas abordados são tão diversos quanto intrigantes, variando desde a influência da música em uma sociedade até o impacto do turismo na economia local, cada um proporcionando uma visão abrangente e frequentemente surpreendente do destino em foco.
A coleção oferece um conteúdo que ressoa com a busca por um turismo consciente e informado. Cada volume é um recurso valioso que enriquece a bagagem cultural do viajante, equipando-o com insights e entendimentos que vão além do superficial.
É uma leitura obrigatória para quem valoriza viagens como uma forma de educação e crescimento pessoal, e deseja abordar cada nova aventura com uma perspectiva bem informada e um apetite por aprendizado autêntico.
9. Ébano, Ryszard Kapuściński
“Ébano” é uma obra-prima jornalística de Ryszard Kapuściński, um relato poderoso e evocativo das três décadas que o autor passou viajando pela África. Kapuściński, um correspondente polonês cuja carreira se estendeu pelos momentos mais tumultuados do continente, tece uma narrativa que é tão pessoal quanto política.
Com uma prosa lírica e penetrante, ele narra suas experiências em países devastados pela guerra, pela fome e pela doença, oferecendo uma visão que desafia frequentemente a compreensão ocidental da África.
O livro brilha na habilidade de Kapuściński em humanizar as estatísticas e manchetes. Através de encontros íntimos com pessoas comuns, líderes revolucionários e figuras históricas, ele desvenda histórias de resistência, desespero, resiliência e beleza. “Ébano” vai além do papel de testemunho histórico; é uma meditação sobre a condição humana e sobre a complexidade de um continente frequentemente mal interpretado e simplificado nos discursos globais.
Para aqueles que buscam compreender a África além dos clichês, “Ébano” é um recurso indispensável. Kapuściński oferece uma colcha de retalhos de culturas e conflitos, apresentados com empatia e um compromisso profundo com a verdade.
Sua obra não é apenas uma coleção de reportagens, mas um tributo à incrível diversidade e ao espírito indomável do continente africano. “Ébano” é, enfim, uma leitura obrigatória para jornalistas, viajantes e qualquer pessoa interessada em olhar além de suas próprias fronteiras e preconceitos.
10. O Grande Bazar Ferroviário: De Trem pela Ásia, Paul Theroux
“O Grande Bazar Ferroviário: De Trem pela Ásia” de Paul Theroux é um relato clássico e introspectivo da arte de viajar, servindo como um convite à jornada tanto física quanto filosófica. Theroux, com sua prosa afiada e olhar detalhista, compartilha com os leitores suas aventuras e desventuras ao longo de décadas de viagens por terra.
O livro é uma coleção de experiências e reflexões acumuladas em trens, onde o autor encontra a solidão necessária para observar e absorver as realidades dos diversos lugares por onde passa, dos grandiosos cenários urbanos aos mais remotos confins rurais.
Theroux se apresenta não apenas como um observador, mas também como participante ativo nas culturas que encontra. Ele mergulha em conversas e situações que revelam tanto sobre o local quanto sobre ele mesmo, permitindo aos leitores uma visão genuína e muitas vezes crua das complexidades do mundo.
O livro transita entre o divertido e o melancólico, capturando a essência da viagem como um meio de autoconhecimento e descoberta.
Este é um trabalho que ressoa particularmente com aqueles que veem a viagem não como uma fuga, mas como um caminho para a compreensão mais profunda de si mesmo e do mundo.
11. Ficando meio longe do fato de já estar meio longe de tudo, David Foster Wallace
“Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Longe de Tudo” é uma coletânea de ensaios na qual David Foster Wallace prova seu talento como um dos escritores americanos mais perspicazes e irônicos de sua geração. Neste livro, Wallace leva os leitores em uma viagem por eventos cotidianos e cenários mundanos, desvendando a estranheza e o fascínio escondidos no dia a dia americano.
Desde a hilariante saga de uma visita à Feira Estadual de Illinois até as reflexões provocantes sobre a experiência de assistir ao tenista Roger Federer jogar, Wallace transforma observações agudas em entretenimento literário de alta qualidade.
Com sua prosa inconfundivelmente densa e seu humor autodepreciativo, Wallace aborda a complexidade das interações sociais e as peculiaridades da vida moderna. Ele não se contenta com superfícies; escava fundo nas psiques das pessoas e nas subculturas que explora.
O autor desdobra camadas de significado em experiências aparentemente banais, nos convidando a olhar mais de perto e a pensar mais profundamente sobre o que normalmente passaria despercebido.
Este livro é um deleite para os fãs de Wallace e um ponto de entrada envolvente para novos leitores. “Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Longe de Tudo” não é apenas uma obra de jornalismo de viagem; é uma reflexão sobre o papel da observação e da escrita na compreensão do mundo ao nosso redor.
Wallace, com sua energia intelectual e capacidade de capturar a essência da experiência americana, cria uma obra que é tão divertida quanto filosófica, e que fica na mente do leitor muito depois da última página.
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