Newsletters: um espaço de resistência na internet dos algoritmos

Há muito, ter uma presença digital deixou de ser uma opção. O que começou lá atrás como uma forma de compartilhar nossa vida com amigos e família, se tornou em uma corrida maluca por views, likes, followers, shares ou seja qual for a nova métrica da nova rede do momento. Mas acontece que essa dinâmica frenética e tóxica deixa todo mundo lelé das ideias.

Eu produzo conteúdo para a internet antes mesmo de saber o que era produzir conteúdo. No início, fiz sem qualquer pretensão que não fosse compartilhar assuntos que me interessavam e conhecer pessoas parecidas comigo em várias partes do mundo. Era meu lugar de escape criativo em um mundo digital que eu – e todos da minha geração – começávamos a construir. Com a evolução da internet, minha diversão adolescente de depois da aula foi se profissionalizando e, hoje, é isso que eu faço para viver.

Sem querer parecer saudosista demais, esse tempo inocente e descompromissado da internet não volta mais. Mas, nos últimos anos, tenho observado o nascimento e fortalecimento de um movimento de resistência que tenta resgatar esse jeitinho mais pé-no-chão, saudável e divertido que tínhamos de encontrar nossa gente online anos atrás: as newsletters.

Newsletters, lugares de resistencia em um mundo de algoritmos

O que são as newsletters e como elas voltaram a ser relevantes?

Não sei ao certo de quem foi a ideia de enviar um e-mail contando da vida, mas dá pra afirmar que as newsletters estão aí desde que o e-mail existe e, talvez por isso, possam ser consideradas a primeira rede social da internet.

Nos anos 2000, elas acabaram perdendo espaço para os blog pessoais e, mais tarde, para as redes sociais, mas nos últimos anos ganhou novo fôlego e se transformou em hype graças ao surgimento de plataformas como TinyLetter, Substack e o finado Revue.

Tenho pra mim que esse ressurgimento tem muito a ver com a perda de espaço do texto na internet. Ao contrário do que muitos pensam, somos muitos os que gostam de ler e escrever e, quando as redes mataram o feed rss e o hábito de salvar blogs nos favoritos para visitar toda semana, essa bolha de escritores e leitores teve que migrar para outro lugar.

Diferentemente do e-mail marketing, que tem como objetivo principal a promoção de produtos ou serviços, as newsletters buscam criar conexões e compartilhar conteúdos de interesse comum entre o autor e seus leitores.

Lançado em 2017, o Substack, principal plataforma de newsletters da atualidade, somava mais de um milhão de usuários em novembro de 2021. Esse número se refere apenas aos que publicavam seus textos ali, já que o número de leitores não esta disponível publicamente.

Em uma internet dominada por conteúdo fast-food, as newsletters são um lugar de resistência que mostra que ainda há espaço para uma comunicação mais intimista e pessoal. Elas voltaram a ser relevantes justamente por permitirem uma abordagem mais reflexiva e cuidadosa na construção de uma comunidade e por se diferenciarem das redes sociais ao permitirem um espaço de expressão mais livre e sem restrições de tamanho ou formato.

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Qual a importância das newsletters para escritores e para o formato de texto na internet?

Como uma heavy user da internet que, mesmo em tempos analógicos, sempre se conectou mais com texto que com imagens e sempre preferiu formatos longos e aprofundados aos curtos, as newsletters apareceram para mim como um sopro de ar fresco, trazendo consigo um resgate à reflexão e à construção de conexões mais profundas com os leitores.

Eu sinto como se eu tivesse voltado a encontrar um lugar para mim nesse universo digital, já que até então eu amargava o que fizeram com os blogs.

Para os escritores, elas oferecem a oportunidade de explorar temas com mais liberdade e autenticidade, sem as regras de escrita impostas pelos mecanismos de busca ou a pressão por curtidas e compartilhamentos. Embora na maior parte das plataformas os textos publicados ali sejam rastreáveis pelo Google, escrever com foco em SEO é uma opção, e não uma necessidade, como se transformou com os blogs.

Isso porque as newsletters oferecem outras possibilidades para que seu texto seja encontrado e lido, como o envio por e-mail, a busca da própria plataforma, sistema de classificação por tags e recomendação dos leitores.

Com isso, o escritor volta a ter liberdade criativa no texto e esse resgate do conteúdo autoral também contribui para que ele construa um público leitor, que se interessa pelo que aquele escritor escreve em geral, e não apenas tenta responder uma dúvida no Google.

Além disso, as newsletters criaram uma nova possibilidade de geração de renda através da escrita, graças a sistemas de monetização como o do Substack. Dessa forma, os autores têm a chance de se dedicar mais intensamente à escrita, transformando sua paixão em um negócio sustentável.

Em quais plataformas eu posso hospedar minha newsletter?

Basicamente, qualquer plataforma de disparo de emails em massa pode hospedar sua newsletter. No entanto, sugiro fazê-lo em uma plataforma voltada para conteúdo editorial, e não para email marketing. Assim, você terá mais recursos específicos para escritores, e menos para vendas.

Aqui estão algumas opções:

1. Substack
   Substack é a principal plataforma de newsletter hoje. É fácil de usar e tem opção de cobrar pelas assinaturas. Para mim, é a melhor escolha porque recentemente eles tem desenvolvido mais ferramentas de comunidade, o que tem me ajudado bastante a crescer minha base se assinantes.
2. LinkedIn
   O próprio LinkedIn também já lançou sua ferramenta de newsletter. A vantagem aqui é que você pode contar com a comunidade da rede para ler, divulgar e engajar com seu conteúdo da newsletter.
3. MailChimp
   Mailchimp é uma plataforma robusta de marketing por e-mail que oferece uma ampla variedade de recursos, incluindo a criação e gerenciamento de newsletters. É uma boa opção para aqueles que buscam mais recursos e flexibilidade. A desvantagem é que, depois de um certo número de assinantes, passa a ser um serviço bem caro.
4. TinyLetter
   TinyLetter, que pertence ao Mailchimp, é uma plataforma simples e gratuita para criar e enviar newsletters pessoais. É uma ótima escolha para quem busca uma experiência mais minimalista e focada em texto.
5. Sendinblue
   Sendinblue é uma plataforma de automação de marketing que também oferece ferramentas para criação e envio de newsletters. É adequada para aqueles que buscam combinar suas newsletters com outras estratégias de marketing por e-mail.
6. ConvertKit
   ConvertKit é uma plataforma de marketing por e-mail projetada especificamente para criadores de conteúdo, como blogueiros e escritores. Oferece recursos para a criação de newsletters, bem como automação e segmentação de e-mail.

É melhor ter um blog ou uma newsletter?

A escolha entre um blog e uma newsletter depende de seus objetivos e preferências pessoais como escritor. Ambos os formatos têm suas vantagens e desvantagens, e é importante considerar qual se encaixa melhor em suas necessidades.

Blog:

1. Maior visibilidade: Blogs são geralmente mais acessíveis ao público, facilitando a descoberta de seu conteúdo por novos leitores através de mecanismos de busca e compartilhamento em redes sociais.
2. Maior flexibilidade de design e da estrutura do site: Com um blog, você tem mais controle sobre a aparência e a experiência do usuário, podendo personalizar o layout e o design conforme suas preferências.
   3. Maiores possibilidade de monetização: Nos blogs você pode monetizar seu conteúdo com uma infinidade de programas de afiliados e anúncios.

Newsletter:

1. Relacionamento mais próximo com os leitores: As newsletters são enviadas diretamente para a caixa de entrada dos leitores, criando uma conexão mais pessoal e íntima.
   2. Maior controle da audiência: Ao contrário dos blogs, onde qualquer pessoa pode acessar seu conteúdo, nas newsletters você pode escolher se o conteúdo será público ou apenas disponíveis para quem se inscreve (ou para quem paga), dando a você mais controle sobre quem está lendo seu material.
   3. Maior liberdade criativa: Com uma newsletter, o foco principal é o texto, o que pode ser atraente para escritores que desejam criar uma experiência de leitura mais imersiva e livre de distrações.

Decidir se ter uma newsletter é para você vai depender muito do seu perfil, estratégia de presença digital e dos seus objetivos.

Para mim, os formatos se completam: tenho um blog para textos SEO e uma newsletter para textos mais autorais e criativos. Além disso, publico meus textos em outro blog, para arquivar o conteúdo e criar uma portfólio online, já na newsletter eu construo um público leitor e engajo minha comunidade.

Essa abordagem pode oferecer o melhor dos dois mundos, permitindo que você alcance um público mais amplo e, ao mesmo tempo, mantenha uma conexão mais profunda com seus leitores mais fiéis.

Quais as boas práticas para começar uma newsletter?

1. Defina um objetivo: Com tantas redes e plataformas que podemos explorar, é de extrema importância de ser estratégico no seu posicionamento digital. Caso contrário, você pira. Antes de começar a escrever, é importante ter um objetivo claro para a sua newsletter. Pergunte a si mesmo qual é o propósito desse novo projeto e o que você espera alcançar com ele. Isso ajudará a orientar o tipo de conteúdo que você cria e a manter o foco.
2. Escolha um nicho ou abordagem: Concentre-se em um tópico ou área de interesse específica para atrair um público-alvo. Isso facilita a criação de conteúdo relevante e interessante e ajuda a estabelecer sua autoridade no assunto.
3. Desenvolva um calendário editorial: Estabeleça uma programação regular para o envio das newsletters. Você não precisa enviar um email toda semana, mas ter periodicidade e consistência é essencial para o sucesso dessa empreitada.
4. Mantenha um tom pessoal: As newsletters são uma oportunidade de estabelecer uma conexão pessoal com seus leitores. Use um tom amigável e conversacional para se conectar com seu público e compartilhar suas opiniões e experiências.
5. Foque na qualidade, não na quantidade: Priorize a criação de conteúdo de alta qualidade que seja envolvente para seus leitores. Aproveite que o tempo do email é diferente das redes sociais e crie formatos longos e aprofundados sobre seu tema.
6. Incentive a interação: Convide seus leitores a interagir com você, seja respondendo à newsletter, deixando comentários ou se conectando nas redes sociais. Isso ajuda a criar uma comunidade em torno do seu conteúdo e a manter seus leitores engajados.
7. Promova sua newsletter: Divulgue sua newsletter através de suas redes sociais, blog, site e outras plataformas online para atrair novos assinantes. Incentive seus leitores atuais a compartilhar a newsletter com amigos e colegas.
8. Promova sua newsletter: Divulgue sua newsletter através de suas redes sociais, blog, site e outras plataformas online para atrair novos assinantes. Incentive seus leitores atuais a compartilhar a newsletter com amigos e colegas.
9. Monitore e ajuste: Acompanhe as métricas da sua newsletter, como taxas de abertura, cliques e cancelamentos de assinatura, para entender o que está funcionando e o que pode ser melhorado. Use essas informações para ajustar seu conteúdo e estratégias de divulgação conforme necessário.
10. Seja paciente: Estamos acostumados a esperar viralizações e sucessos meteóricos, mas o crescimento da sua base de assinantes pode levar tempo. Concentre-se em fornecer conteúdo de qualidade, a divertir-se no processo e construir relacionamentos de longo prazo com seus leitores, e o sucesso virá com o tempo.

Como divulgar e crescer minha newsletter?

1. Utilize as ferramentas de comunidade das plataformas
   Faça uso dos mecanismos de crescimento da plataforma que você escolheu. No Substack, temos o Notes, o Chat e o sistema de recomendações que ajudam muito. No LinkedIn, temos o feed de notícias, hashtags e compartilhamentos.
2. Divulgue nos seus outros canais
   Compartilhe sua newsletter no Facebook, Twitter, Instagram e LinkedIn. Isso permite que você leve sua audiência de um lugar para o outro. Lembre-se de incluir um link para a página de inscrição e uma boa call to action.
3. Olhe para o lado
   Newsletters são sobre construção de comunidade, e isso inclui outros escritores. Inclua recomendações de outros textos nas suas newsletters, leia e interaja com os textos de outras pessoas. Elas vão acabar ficando curiosas para ver o que você escreve e se gostarem, podem retribuir a gentileza.
4. Colabore com outros produtores de conteúdo
   Estabeleça parcerias com outros criadores de conteúdo em seu nicho para compartilhar seu trabalho e promover suas newsletters mutuamente. Você pode escrever artigos convidados, ser entrevistado em podcasts ou fazer uma troca de divulgação de newsletters.
5. Integre sua newsletter em seu site ou blog
   Adicione um formulário de inscrição em seu site ou blog para que os visitantes possam se inscrever facilmente. Inclua chamadas à ação em suas postagens e páginas relevantes para incentivar os leitores a se inscreverem.
6. Ofereça incentivos
   Incentive as inscrições oferecendo algo valioso em troca, como um e-book gratuito, um desconto especial ou acesso a conteúdo exclusivo.
7. Trabalhe o SEO dos textos
   Dependendo dos seus objetivos e estratégias, otimizar seus textos para mecanismos de busca também são uma ótima forma de crescer sua newsletter.

Algumas newsletters incríveis para você se inspirar

• Migraciones: Essa é a minha newsletter autoral com reportagens e crônicas de viagem. Ela existe há dois anos e é o projeto que eu mais gosto de fazer atualmente. A inscrição é totalmente gratuita.
• Grandes Viajantes: Quando nossas crônicas e reportagens de viagem perderam espaço no blog, migramos esse conteúdo para uma newsletter premium para assinantes. A Grandes Viajantes é enviada sempre da última semana do mês e tem nosso melhor conteúdo.
• Uma Palavra: Uma veterana da escrita na internet, a Aline Valek compartilha crônicas e insights de seu processo criativo.
• À toa pelo mundo: Acompanhe o processo de escrita de um livro sobre uma volta ao mundo com textos cheios de autenticidade e um olhar único pelos destinos visitados.
• Outra Cozinha: Reflexões inteligentes e sensíveis sobre temas diversos, que têm a comida e o ato de cozinhar como fio condutor.