As viagens são muitas vezes vendidas como cura para todos os problemas da humanidade. Mas a verdade é que o turismo é um tipo de indústria e, como tal, gera impactos que podem ser devastadores em muitos locais.
Como viajantes, é fácil nos esquecer dos efeitos negativos que nossas andanças podem ter no meio ambiente, nas comunidades locais ou na preservação de tradições. O turismo sempre deixa uma marca.
Por isso, quando pensamos em um modelo de turismo sustentável, não estamos falando apenas em pequenas mudanças individuais, canudinho de bambu e hospedagem em ecolodge.
É preciso olhar para um movimento global que envolve governos, empresas e viajantes. Embora eu fale para todo mundo que eu conheço sobre as vantagens do Turismo de Base Comunitária, eu só acredito em mudanças reais a partir da imposição de políticas públicas bem planejadas. São elas que podem tanto fomentar quanto prejudicar um turismo que respeite o meio ambiente, as culturas e as economias locais.
Em ano de eleições municipais, é importante a gente olhar para o turismo como um setor estratégico, capaz de proporcionar grande desenvolvimento econômico, em especial para regiões vulneráveis, de preservar tradições e de aumentar a auto-estima de populações tradicionalmente marginalizadas. Alguns pontos que eu gosto de destacar:
Mais que Plantar Árvores: Desmistificando o Turismo Sustentável
Compensação de carbono, plantio de árvores, ecoturismo. Essas são algumas das imagens que surgem em nossas mentes quando falamos em turismo sustentável. Mas embora essas práticas tenham seu valor, elas mal arranham a superfície de um conceito muito mais complexo. Um turismo verdadeiramente sustentável vai além de ações simbólicas e envolve decisões que afetam positivamente as pessoas, as culturas e os ecossistemas de um destino.
Um dos maiores dilemas está na tensão entre o crescimento econômico gerado pela atividade turística e a preservação ambiental e cultural dos destinos. Em muitos lugares, especialmente em países em desenvolvimento, o turismo é uma das principais fontes de receita e reduzir o fluxo de turistas ou limitar certas atividades para proteger o meio ambiente pode significar uma queda no emprego e nos lucros locais, o que coloca as autoridades locais e as comunidades em uma posição difícil.
Lugares que dependem fortemente de turistas para gerar renda podem hesitar em impor restrições que limitariam o número de visitantes ou exigiriam mais investimentos em infraestrutura sustentável. Muitas vezes, as comunidades locais precisam equilibrar a necessidade imediata de sobrevivência econômica com a preservação de seus recursos para o futuro.
Esse tipo de tensão acaba por provocar cenários de overturism, em que determinados lugares, como Veneza, Barcelona ou Machu Picchu, ficam sobrecarregados pelo número excessivo de visitantes, o que pressiona a infraestrutura local, degrada o meio ambiente e prejudica a qualidade de vida dos moradores.
O Greenwashing no Turismo
Outro desafio é a prática crescente de greenwashing, onde empresas promovem suas operações como “sustentáveis” sem realmente adotar práticas que tenham um impacto positivo relevante nos destinos. Isso cria uma falsa sensação de responsabilidade ambiental entre os consumidores, que acreditam estar fazendo escolhas conscientes, quando na realidade estão apenas contribuindo para modelos de negócios pouco sustentáveis.
Um bom exemplo são aqueles hotéis que afirmam ser ecologicamente corretos por pedirem que os hóspedes reutilizem toalhas, mas ao mesmo tempo consomem grandes quantidades de energia e água para manter piscinas, spas e sistemas de ar-condicionado. Sem regulamentações claras ou certificações confiáveis, é difícil para os viajantes distinguir entre iniciativas realmente sustentáveis e aquelas que apenas “parecem verdes” na superfície.
Turismo Comunitário: A Chave para um Modelo Sustentável?
Eu sou uma grande defensora do turismo de base comunitária como a solução mais viável para os desafios da sustentabilidade no setor de viagens. Ao contrário do turismo de massa, que muitas vezes prioriza o lucro à custa das culturas locais e do meio ambiente, o turismo comunitário coloca as populações locais (e seus pequenos negócios) como o centro da experiência, promovendo um modelo que beneficia tanto visitantes quanto comunidades anfitriãs.
Mas será que ele é realmente a chave para um modelo de turismo verdadeiramente sustentável?
O que é o Turismo Comunitário?
O turismo comunitário é uma forma de viagem em que as comunidades locais desempenham um papel central na organização e oferta de experiências turísticas. Ao contrário das viagens tradicionais, onde grandes operadores turísticos gerenciam a maior parte das atividades, no turismo comunitário são os próprios moradores que acolhem os visitantes, compartilham sua cultura, organizam passeios e, muitas vezes, fornecem acomodações e refeições.
Esse modelo promove uma experiência mais imersiva para os viajantes, mas, mais importante que isso, garante que os benefícios econômicos gerados pelo turismo sejam distribuídos diretamente entre os membros da comunidade.
Experiências Autênticas com Impacto Positivo
Do ponto de vista do viajante, uma das grandes vantagens do turismo de base comunitária é a possibilidade de ter experiências realmente imersivas. Em vez de se hospedar em grandes redes de hotéis ou participar de atividades pré-planejadas por empresas distantes, os visitantes podem aprender diretamente com os moradores locais, explorando os aspectos de suas culturas, tradições e modo de vida.
Nessa modalidade, os moradores são anfitriões que definem como, quando e onde mostrar sua casa e cultura aos visitantes. São eles os que convidam e ditam as regras da casa, ao contrário de experiências exploratórias que criam zoológicos humanos em locais com populações tradicionais e altamente vulneráveis.
Ao serem protagonistas das atividades turísticas, os moradores podem decidir quais práticas são sustentáveis e quais são prejudiciais à sua cultura e meio ambiente.
Entre as experiências possíveis, estão, por exemplo, passar alguns dias com uma população indígena na Amazônia, ajudando na colheita de alimentos, aprendendo sobre plantas medicinais e ouvindo histórias ao redor da fogueira. Ou participar de um workshop de artesanato tradicional em uma pequena vila na África aprendendo com os locais sobre a identidade cultural da região.
Eu já participei de algumas delas e conto aqui:
• De campos de ópio a fazendas de café na Tailândia
Essas experiências criam memorais incríveis para o viajante mas, mais do que isso, também proporcionam uma renda vital para as comunidades anfitriãs, aumentam a auto-estima de populações marginalizadas e geram um ciclo de benefícios mútuos.
Além disso, o turismo comunitário cria oportunidades de capacitação e desenvolvimento econômico para áreas que, muitas vezes, são excluídas dos circuitos turísticos tradicionais. O dinheiro gerado pelo turismo pode ser investido em infraestrutura, educação, saúde e preservação ambiental, criando um impacto positivo duradouro.
Preservação Cultural e Ambiental
Outro benefício crucial do turismo comunitário é a preservação dos recursos naturais e culturais. Como as comunidades locais têm uma conexão direta com a terra e a cultura que habitam, elas tendem a adotar práticas de conservação que preservam suas tradições e o meio ambiente. A sustentabilidade, nesse caso, não é uma estratégia de marketing, mas uma necessidade para garantir a sobrevivência da própria comunidade e de seu modo de vida.
Muitas iniciativas de turismo comunitário também estão ligadas à conservação ambiental. Projetos de ecoturismo, por exemplo, são frequentemente gerenciados por comunidades que dependem dos recursos naturais para sua subsistência e, portanto, são altamente motivadas a protegê-los. Isso cria uma dinâmica onde o turismo incentiva a preservação, em vez de contribuir para a degradação dos recursos locais.
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