O 360meridianos nasceu em 2011. Era um projeto entre amigos, um lugar para compartilhar nossas viagens com nossas famílias e pessoas que também amavam descobrir o mundo.
De lá para cá, se tornou o principal meio de vida dos três sócios, e ajudou a bancar as contas de vários colaboradores, parceiros e prestadores de serviço. Quando a pandemia fechou fronteiras e aeroportos, apertamos os cintos e conseguimos sobreviver ao impacto do vírus no mercado do turismo, pois sabíamos que seria uma situação passageira. A crise durou três anos, mas sobrevivemos.
Agora, uma ameaça muito maior e mais definitiva paira não apenas sobre o 360meridianos e nossos colegas blogueiros de viagem, mas contra toda uma internet feita por pessoas e para pessoas.
Por décadas, grande parte do conteúdo da internet era publicado em sites independentes, feitos por gente como eu e vocês. São profissionais especialistas nos assuntos que abordam e que encontraram na rede uma maneira de ter sua voz ouvida e de compartilhar seu conhecimento e interesses com o mundo em forma de conteúdo gratuito e de qualidade.
Depois de muito trabalho, esses sites encontraram maneiras de seguir falando sobre os temas que amavam de forma profissional e se tornar viáveis economicamente, gerando uma fonte de renda compatível com um trabalho full time e que ainda hoje é responsável pelo sustento de inúmeras famílias mundo afora.
Agora, esses mesmo sites estão desaparecendo dos resultados de busca orgânicos do Google para dar lugar a corporações que publicam artigos genéricos, criados em escala, utilizando-se de conhecimento raso e, em muitos casos, plagiando o texto dos especialistas independentes. Muitas dessas empresas fecharam recentemente acordos milionários com o Google, outras são grandes clientes de ads.
O que mudou na busca do Google
Era uma vez uma empresa que tinha como lema “Do no harm”. E então, ela decidiu que qualquer mal que pudesse fazer seria compensado, desde que desse dinheiro.
Você já deve ter reparado: os blogs e pequenos sites sumiram dos resultados de busca do Google. Essa tendência é observada em diversos nichos (veja uma postagem sobre o tema em um site de games e outro de teste de produtos). Para demonstrar isso, vamos utilizar exemplos do universo das viagens.
Em toda a sua história, o maior buscador do mundo sempre afirmou que seu objetivo era entregar para as pessoas os melhores resultados para suas buscas. Por muito tempo, todos acreditamos nisso e, ainda que meio forçados, tivemos que adequar nossa forma de escrever para agradar o algoritmo e assim aparecer no topo dos resultados.
Ano após ano, atualizamos nosso conteúdo para se enquadrar nas diretrizes ditadas pela empresa. Embora isso sempre tenha me incomodado, por considerar que os textos ficavam um tanto mecânicos e massificados, deixando pouco espaço para a criatividade, eu o fazia de boa vontade, por entender que esse era o caminho para sobreviver na internet.
Com uma equipe reduzida de três pessoas, trabalhamos incansavelmente nisso. Apesar de sentirmos o peso de concorrer com empresas que contam com grandes equipes de redatores, parecia que a vontade de compartilhar nossa experiência autêntica e expertise em viagens acumuladas por mais de uma década acabava nos dando uma certa vantagem.
No entanto, desde o segundo semestre do ano passado, isso deixou de ser suficiente.
Os resultados de pesquisa do Google não são mais justos. Embora eles afirmem que estão tentando reduzir o spam da internet, o que vemos é que os resultados de busca não refletem mais os critérios e diretrizes que eles mesmos divulgam.
Faça um teste agora mesmo. É muito provável que os primeiros resultados sejam dominados por um monte de coisas ANTES que apareça qualquer site. Quando finalmente aparecem, pouquíssimos desses sites serão independentes.
Há algumas semanas, publiquei aqui uma tradução de uma publicação importante sobre o tema no Twitter.
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1. Snipets e widgets que desestimulam o acesso aos sites
Para começar, é uma tendência já antiga tentar fazer com a que as pessoas não saiam da página de busca. Isso acontece porque o Google rouba o conteúdo de um site e o apresenta como se fosse ele o proprietário intelectual daquele trabalho, em forma de galerias, snippets e outros widgets.
Quando o usuário recebe a resposta na página de busca, a chance dele acessar o site é drasticamente reduzida, interferindo assim diretamente na receita dessas publicações e aumentado o tempo de permanência do usuário no Google, que não recompensa em nada o autor daquela informação.
Em alguns casos, isso ocorre sem nem mesmo citar a fonte.
2. Aumento na proporção de resultados pagos
Depois dos widgets, vêm os anúncios. São resultados patrocinados que exibem os sites de quem paga mais. Ao longo dos anos, a proporção de publicidade x resultados orgânicos aumentou drasticamente, chegando a até quatro anúncios por página, hoje em dia.
Mas até aí, tudo bem. Até então, eu pensava que era do jogo. O que me deixou pistola de verdade foram as atualizações de algoritmo ocorridas nos últimos meses.
3. Preferências por grandes empresas nos resultados
Embora isso não tenha sido admitido pela empresa, é claro e evidente que os resultados de busca agora privilegiam mega-corporações em detrimento de sites menores e blogs, ainda que o conteúdo publicado por elas tenha qualidade muito inferior ou, pior ainda, seja uma cópia parafraseada e mal feita dos textos e da expertise dos produtores independentes.
No 360meridianos e em outros blogs de viagem, blogueiros compartilham suas vivências reais. Gastamos dinheiro visitando um país e depois colocamos essa experiência no formato exigido pelo Google. Então, agências e corporações contratam equipes de redatores que lêem nossos textos e, sem nunca terem visitado tal destino, escrevem artigos baseados nos nossos. Quando o Google avalia qual o melhor resultado, advinha quem vem primeiro?
Casos parecidos foram demonstrados em outros nichos, como os exemplos de game e testes de produtos citados no início deste texto.
Isso sempre ocorreu em alguma escala. Porém, desde setembro do ano passado, o golpe foi ainda mais duro para nós.
Quando questionados sobre o tema, as respostas do Google são genéricas e evasivas, e nunca fica claro por que os blogs e sites independentes estão agora sendo considerados como spam ou irrelevantes.
4. Uso de inteligência artificial de forma antiética nas respostas
A tendência disso tudo é piorar com a popularização e integração das ferramentas de AI, que vai entregar respostas 100% geradas por inteligência artificial. Mas advinha como essa AI é treinada? Isso mesmo, com o uso indevido do nosso conteúdo, sem dar qualquer crédito ou remuneração a quem faz o verdadeiro trabalho intelectual por trás delas.
Embora o 360meridianos não tenha sido tão financeiramente impactado até o momento — não a ponto de inviabilizar nossa existência, como já ocorreu com outros sites — são tempos muito incertos.
Meu medo é que estejamos vivenciado o fim da internet independente. Mais que uma preocupação pessoal com o meu negócio (que sim, tem me afligido um montão), também me preocupo com um mundo em que todas as vozes independentes da internet sejam caladas. E esse, que já foi um universo de possibilidades, se transforme em um espaço dominado por grandes corporações. Um enorme shopping em que não há troca, não há comunidade, não há conteúdo autêntico. E acho que ninguém quer que isso aconteça.
O que podemos fazer sobre isso?
A verdade é que não sabemos. Está claro que esse é um momento de grandes mudanças na internet, mas elas estão muito incipientes para que a gente já saiba com clareza o que ainda irá acontecer.
Por enquanto, acredito que o ideal seja aguardar, pressionar os serviços por uma atuação mais ética e justa (é o que eu estou tentando fazer aqui) e apoiar como pudermos os canais independentes que gostamos.
Como usuária, tenho achado os resultados das buscas muito ruins. Quando vou planejar minhas viagens, quero ver pessoas reais contando suas experiências reais e não um artigo frio da Expedia.
Se isso também te incomoda, talvez uma maneira de contornar seja ter uma lista com seus blogs e sites preferidos salva para que você possa buscar diretamente as respostas neles quando precisa. Se inscrever em listas de email e outros canais de comunicação direta também ajuda a diminuir a dependência que negócios como o 360meridianos têm do Google.
Por último, lembre-se que grande parte desses sites são mantidos através do display de publicidade e de programas de afiliados (nosso caso). Por isso, acessar os sites e fazer suas compras e reservas por meio dos links publicados neles é uma forma muito importante de manter vivo quem sempre contribuiu para que a internet fosse um canal democrático e plural.
Eu te ajudo a cair na estrada também!Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens. |
Já não se faz mais internet nem blogs como antes. Tudo está tão modificado e frio, que tem horas que bate o desânimo de continuar blogando. A magia e alegria de bloggar eram tão legais antigamente não é mesmo?! Hoje em dia estamos tentando sobreviver com conteúdos nos blogs, com todos esses revezes que você colocou aqui no post.
Boa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Particularmente, enquanto usuário médio eu parei de usar o Google, pois simplesmente nunca me entregava o que eu procurava. Hoje eu uso outros motores de busca. Não tenho negócios que dependam do Google, mas se eu os tivesse, sinceramente, mudaria rapidamente a minha forma de captar novos clientes e alcançar novos públicos – não dá para esperar algo bom do Google a curto e médio prazo.
Interessante você dizer isso! Eu também mudei o buscador padrão do meu navegador e tenho usado o Bing com ótimos resultados. Infelizmente, tenho o mesmo pensamento que você com relação ao futuro do Google.