O que levar para o Universo Paralello 2023/2024
Tenho a péssima mania de dizer sim para quase tudo, e esse meu mau hábito foi o que me levou ao Universo Paralello 2022.
Bora tomar uma? Claro. Vamos pra praia no final de semana? Óbvio. Topa sair amanhã cedo em uma viagem não planejada para passar o carnaval a 700 km daqui? Tô fazendo as malas. Anima pegar mais um projeto megalomaníaco de trabalho? Cruzar a América Latina por terra? Mochilar em um país à beira de uma guerra civil?
E assim, quase que de um dia para o outro, eu me vi em um rolê completamente fora da minha tribo.
Pratigi é a última fronteira da exploração turística no sul da Bahia, uma vila acessível por uma sofrida estrada de terra, cercada por florestas de mata atlântica e fazendas de coco e de dendê.
Na maior parte do tempo, o local é quase deserto: a praia é rodeada por um denso coqueiral e umas poucas barracas rústicas espalhadas por seus 17 km vendem água de coco e petiscos simples. A vila tem uma única pousada e algumas casas de aluguel para temporada, o suficiente para atender os poucos turistas que chegam ali.
A cada dois anos, no entanto, Pratigi se transforma. Uma verdadeira cidade é montada em meio à natureza selvagem, e mais de 30 mil pessoas se reúnem ali por uma semana para prestigiar o maior festival de cultura alternativa da América Latina.
Adiado em 2021 devido ao avanço da ômicron, o Universo Paralello 2022/23 ocorreu depois de três anos de espera e contou com oito pistas e mais de mil apresentações culturais e musicais, que variam entre DJs famosos, como o Alok (que, aliás, é filho dos donos do festival); DJs que devem ser famosos pra muita gente mas que eu nunca tinha ouvido falar; gente da música brasileira pra agradar quem caiu de paraquedas como eu, tipo o Chico César e a Céu; coletivos independentes, como a ótima Mamba Negra de São Paulo, além de apresentações de capoeira, cultura indígena e circo.
A primeira missão de qualquer pessoa dentro do Universo Paralello é encontrar um lugar para dormir. Quem tem dinheiro pode pagar por um camping VIP com serviço de quarto (ou de tenda?), locker e até salão de beleza. Algumas pessoas optam por alugar uma casa em Pratigi, mas o trampo de ir e voltar todo dia para o festival é mais proibitivo que os já altos valores cobrados pelos proprietários: são dois transportes e meia hora de caminhada da vila até a praia.
A maior parte das pessoas acaba montando uma barraca onde der. O ideal é que a área escolhida seja próxima à praça de alimentação e às pistas, mas não tão próxima a ponto de parecer que tem uma caixa de som debaixo do seu travesseiro. Mas importante mesmo, no entanto, é conseguir uma sombra.
Cheguei um dia depois da abertura dos portões e boa parte dos locais de camping já estavam ocupados. Por sorte, encontramos um espaço embaixo de uma árvore, perto da comida e de um banheiro, mas a barraca estava quebrada e o colchão de ar que eu comprei às pressas em Itacaré veio sem bomba.
O jeito seria não dormir.
Virei a noite na pista da Mamba.
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O sol de Pratigi te expulsa da barraca assim que nasce, sem qualquer cerimônia, e só vai dar paz novamente no fim da tarde.
Se você, por um acaso, perde a curta janela fresca para dormir, terá que esperar até a próxima noite ou se refugiar nas esparsas sombras dos coqueiros.
É que o festival ocorre em dois ambientes: a praia e o mangue. Durante o dia, o mangue é inabitável. A brisa oceânica não dá as graças por ali e o que resta é um clima úmido e quente, um ar parado que se mistura com sal e suor. É no mangue que fica o Main Stage, pista principal do evento, onde tocaram os principais nomes do lineup.
Eu preferia passar os dias curtindo a brisa na praia e me refrescando de vez em quando no mar. Minha pista favorita foi a Syncrö, que tocava brasilidades e outros ritmos que combinavam com o ambiente praianos. Mas eu só a aproveitei no terceiro dia. Passei a maior parte da manhã seguinte à minha chegada tentando fugir do sol para tirar um cochilo.
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Jeff me contou que, em seus anos áureos de Universo Paralello, ele passava os sete dias virados na pista.
“Bom, agora você tem quase 40″, eu disse, enquanto passava uma cartela de ibuprofeno depois de mais uma noite dormindo no chão.
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Uma das partes mais interessantes do festival é caminhar pelas pistas e notar a mudança de perfil do público em cada uma delas. Há muitos anos o UP deixou de ser um festival de trance para se tornar um encontro de tribos.
Com a diversidade de artistas e pessoas, há sempre um cantinho pra todo mundo ali: os dinossauros das raves, as patricinhas do house, os hippies, quem caiu de paraquedas e até crianças.
Passar uma semana inteira desconectada do mundo lá fora (até a posse do Lula eu perdi), seguindo apenas minha vontade e sem obrigação nenhuma com ninguém também foi um respiro. Os únicos problemas são os imediatos: os banheiros em número insuficientes, o calor, a pista que está longe, a fome, o cansaço. Atravessar aqueles portões é se esquecer que existe um outro Universo do lado de lá.
Veja aqui tudo que eu levei para o Universo Paralello.
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