Eu tenho mania de comprar cadernos. Não sei quando eu percebi isso pela primeira vez, talvez tenha sido em um daqueles vários momentos em que paro entre as estantes de alguma papelaria e sento a textura de uma página em branco nas pontas dos dedos, implorando para ser preenchida com ideias.
Cadernos novos são amuletos de recomeço. As páginas em branco são opções em aberto. São a estrada nova que a gente acabou de pegar e ainda não sabe o que vai encontrar lá frente. São caminhos cheios de possibilidades inexploradas, que serão desvendadas conforme as letras que a gente colocar nelas. É por isso que eu amo os cadernos.
Se eu pudesse, eu começava um toda semana. Seria maravilhoso começar as segunda-feiras tendo tanta folha para completar. Como não posso, invento desculpas para justificar os reais gastos nas papelarias. Um projeto, uma nova fase, a hora de começar um diário, diferentes funções para diferentes bloquinhos. E é óbvio que eu acabo com uma coleção imensa porque é impossível preenchê-los na velocidade em que eu os compro.
Meus favoritos são os de capa dura, que me deixam escrever mesmo que não tenha onde me apoiar. Também prefiro os sem pauta, para não enjaular as palavras. Quando escrevo, não consigo manter as linhas em uma reta perfeita, as frases sempre descambam para baixo ou para cima, mas gosto que elas tenham a liberdade de não serem tão certinhas. Neles eu anoto minhas ideias, faço um logbook dos meus dias, treino minha escrita e copio frases, trechos e versos que escuto por ai. Qualquer coisa que seja digna de ser marcada em tinta.
A obsessão se estende ao universo do papel. Livros, post-its, agendas, fichários, bloquinhos, canetas, adesivos, materiais escolares que há anos eu perdi o direito de cobiçar nas papelarias. Eu amo o ruído que surge do atrito do lápis com a folha, de poder tocar minhas anotações e, com o passar dos anos, ver a página — e as memórias — envelhecendo e amarelando, amo escrever à mão.
Minha letra é pequena, redonda e de forma. Há anos não sei mais usar a letra cursiva. Quando tento, sai tudo forçado e custa um esforço danado, de doer a mão. Não dá mais para conectar as letras, cada uma ganhou vida própria. Eu prefiro escrever separado, com espaços diferentes entre as palavras, dependendo da intensidade do turbilhão.
Mas é preciso ser sincera: eu raramente preencho um caderno até o fim. Uns duram mais, outros bem menos, mas eles sempre são aposentados com páginas vazias. Já cheguei ao cúmulo de ter diários que duraram duas folhas antes de serem esquecidos no fundo da gaveta. Não sei explicar, é um bloqueio. Como se as eternas folhas em brancos me dissessem que ainda há espaço para criar, que é ainda possível mudar de de rumos, que as possibilidades ainda vivem. Um caderno com uma página em branco guarda uma porta que ficará sempre aberta.
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