Eu não sei bem como isso começou. Acho que foi com uma conversa que eu tive em uma viagem no ano passado, e as coisas que eu ouvi foram crescendo em mim até se tornarem a semente de uma história.
Não é a primeira vez que eu abro um arquivo de texto e começo a colocar palavras na página com a intenção de um dia vê-las nas prateleiras de uma livraria.
Na primeira vez eu tinha 10 anos e eu mesma o confeccionei com capa de cartolina. A professora da quarta série tinha dito que iríamos publicar um livro como um projeto de fim de ano, mas eu fui a única da turma que de fato escreveu a história. E depois, como ela parecia ter se esquecido da promessa, eu mesma me encarreguei de levar o trabalho a cabo. Não me lembro exatamente sobre o que era a história, mas acho que envolvia viagens no tempo – ou seria para outros mundos?
Depois disso foram várias tentativas. Na adolescência, inspirada por Harry Potter e outros best-sellers de fantasia, tentava criar meus próprios mundos de magia e aventuras épicas. Amarrar o enredo, no entanto, sempre foi meu grande desafio. A fagulha inicial e a empolgação que vinha dela logo se desvanecia em uma ideia que eu, sem exceções, começava a achar boba.
Esperar que a ideia viesse completa e que se desenrolasse como um novelo à medida que eu colocasse as palavras na página era, talvez, o meu maior erro. Agora mesmo, tenho três arquivos de histórias inacabadas que só ganharam as primeiras cenas e foram abandonadas depois porque o fio narrativo se embolou. Projetos que eu amo mesmo assim, e pretendo retomar algum dia. Algum dia, depois que eu terminar esse no qual estou trabalhando agora.
Não sei explicar o que há de diferente dessa vez, mas acho que tem a ver com ter encontrado exatamente a história que eu queira contar, no momento em que eu acho que eu deveria contá-la. E do fato do tom da história ter se mostrado tão natural para mim. Mas o principal é ter entendido que o enredo não virá como uma corrente, mas sim aos saltos, como pequenas epifanias no momento em que eu lavo os pratos ou leio uma frase deslocada em um conto aleatório ou na notícia de um jornal.
É isso, parece que eu estou escrevendo um livro e estou feliz com o que estou botando no papel. Só queria compartilhar isso com vocês.
Diário da Pandemia
Cento e vinte dias. Tempo suficiente para surtar incontáveis vezes, ficar obcecada por notícias, perder o interesse em tudo, ganhar sete quilos, perder sete quilos, passar dias sem vontade de se levantar, achar que iríamos morrer todos e em seguida achar que ia ficar tudo bem, tentar viver um dia de cada vez, fazer planos para a reabertura ignorando que essa coisa de reabertura já é um conceito tão abstrato quanto a vida após a morte, esquecer aniversários por perder a noção do tempo, criar cinco famílias no The Sims e jogar até perder a graça, zerar três jogos Pokémon até também perder a graça, ler um bocado, passar dias se sentindo inútil, se culpar por não estar produzindo nada de novo, se obcecar com o trabalho, lançar um projeto novo – ou dois -, se sentir orgulhosa de estar produzindo bastante até, apesar do caos do mundo, beber todo dia, dar um tempo de beber, me afunda em panelas de brigadeiro e dar um tempo em doces também, voltar brevemente para o Tinder só para me lembrar o motivo pelo qual eu saí de lá pra começo de conversa, tomar decisões que vão mudar minha vida radicalmente, achar que não ia durar tanto e depois achar que vai durar pra sempre, ficar triste pela vida que eu tinha antes – e como eu gostava daquela vida! -, dizer que não aguento mais mas aguentar o dia seguinte mesmo assim, porque a gente não tem escolha senão aguentar.
Mas, apesar de tudo, estamos bem por aqui. Seguimos. Vai passar.
Eu te ajudo a cair na estrada também!Nos links abaixo há alguns serviços que eu utilizo e que me ajudam muito em minhas viagens. |